Superação

“Sinto a força dela comigo”: tenente da Marinha no ES transforma dor da perda da filha em motivação

Koã de Carvalho Gomes atua na Escola de Aprendizes Marinheiros do Espírito Santo, é mãe de dois adolescentes e perdeu a filha caçula para o covid-19

Koã de Carvalho Gomes, tenente da Marinha
Foto: Acervo pessoal

Equilibrar vida profissional e cuidado com os filhos não é uma tarefa fácil. Para uma tenente da Marinha do Brasil, mãe solo de dois adolescentes, não é diferente. As obrigações da vida militar se combinam com as preocupações maternas ao mesmo tempo em que o carinho e orgulho permeiam a vida da família.

Koã de Carvalho Gomes, 34 anos, atua na Escola de Aprendizes Marinheiros do Espírito Santo. É mãe de Eloah e João, 15 e 12 anos, e também da pequena Manu, que morreu ainda bebê, aos 2 anos, vítima de Covid-19 em 2022.

Apesar de ter sido aprovada para ingressar na Marinha em 2023, o sonho de ser militar é antigo. Desde 2016, Koã tentava ingressar nas Forças Armadas. No entanto, foi uma necessidade por tratamentos de saúde da caçula que incentivou ainda mais o alcance deste objetivo:

Era uma meta antiga que eu tinha que se fortaleceu muito com o interesse de conseguir melhores condições para dar uma qualidade de vida melhor para ela.

Quando a filha mais nova foi contaminada pelo coronavírus, Koã estava inscrita nos processos seletivos da FAB e da Marinha. À época, a vacinação infantil ainda não tinha começado. Manuela ficou internada pouco mais de um mês na UTI.

Os meses seguintes à morte da caçula foram difíceis, mas Koã juntou forças, estudou e algum tempo depois, se surpreendeu com a aprovação.

A partir daí, novas etapas viriam e, para isso, ela lutou para se recuperar e continuar a seleção. “Eu fui saindo daquele quadro de depressão em prol das etapas. E aí eu fui vencendo cada uma delas. E eu sentia o tempo todo a Manu. Aquela força dela”.

A perda até hoje dói, mas com a ajuda dos outros dois filhos, da família, dos amigos e da terapia, Koã consegue conforto para lidar com a rotina que, segundo ela, “é uma loucura”. Longe da rede de apoio, que vive em Minas Gerais, a mãe precisou aprender a criar os filhos “com uma autonomia e independência maior do que as outras crianças”.

Tenente da Marinha, Koã de Carvalho Gomes
Foto: Acervo pessoal

“Eles fazem muitas coisas sozinhos, mas tem aquelas preocupações de mãe: saber se chegou na escola bem; às vezes você está no meio do expediente e recebe uma ligação da escola e precisa ir lá; tem que ver médico, deixar tudo organizado, comida para eles, todas essas responsabilidades”, conta.

Além disso, como militar, Koã precisa trabalhar durante 24 horas ininterruptas algumas vezes por mês. Nestes momentos, ela conta com a ajuda do celular para se manter em contato com os filhos e, às vezes, com o pai das crianças.

“No geral, sou eu e os dois. Nós ficamos sozinhos e, quando precisamos, mantemos o contato pelo celular”.

A criação dos filhos

Os valores de firmeza e a postura que Koã mantém no horário de trabalho também são percebidos no cuidado com os filhos. “Eu sou muito durona no sentido de horário, responsabilidade, falar a verdade, cumprir com as tarefas. Neste sentido sou bem rígida”.

Mas a mãe abre o coração e conta que a rigidez abre espaço para entender os dilemas da vida adolescente e acolher os filhos.

“Pela história que eu tive com a Manu e até pela minha formação – eu sou pedagoga e neuropsicopedagoga -, eu percebo quando estou passando dos limites. Também já fui adolescente, tive essa idade”.

Foto: Acervo pessoal

Por isso, ela faz questão de tentar levar a maternidade com leveza. “A gente consegue ficar aberto em relação a todos os assuntos, que eu acho super importante. Tento levar as coisas da forma mais leve possível, até no quartel, para ter um equilíbrio”.

E apesar da dedicação exclusiva, “porque quem é militar, é militar 24 horas por dia”, os filhos adoram ter uma mãe tenente.

Eles acham o máximo. Eles acham bem legal. É uma gratidão. Uma recompensa. Eu sinto o orgulho que eles sentem.

Julia Camim

Editora de Política

Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.

Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.