
Um em cada 10 moradores de favelas no Espírito Santo vive em locais de difícil acesso, onde a infraestrutura urbana é escassa ou inexistente. As condições precárias das vias impactam diretamente a rotina dessas pessoas, que enfrentam obstáculos constantes para realizar atividades simples do dia a dia.
Em Vitória, no Morro do Jaburu, a aposentada Dila Bento, de 78 anos, é uma das muitas pessoas que sofrem com a falta de acessibilidade. Além das dificuldades naturais de mobilidade devido à sua idade, a ausência de ruas ou rampas torna seu trajeto extremamente complicado.

Quando chove é pela escada que eu subo. Porque aqui, se eu subir, eu caio.
Dila Bento, aposentada
Impacto na vida dos moradores
A realidade não é muito diferente em outros bairros de favelas capixabas, como em Nova Rosa da Penha, em Cariacica, onde a aposentada Beatriz de Jesus mora em uma rua íngreme e sem calçamento.

Esses tempos para trás eu passei mal, e meu filho teve que me levar no colo, porque não desce carro aqui.
Beatriz de Jesus, aposentada
Até a moto do gás enfrenta dificuldades para descer a rua, obrigando os entregadores a transportar os itens a pé.
A gente tem que deixar a moto lá em cima e descer com a mercadoria aqui embaixo. Não é só o gás não, farmácia, material de construção… são inúmeros outros tipos de entrega que passam por essa mesma dificuldade.
Fábio Reis, autônomo
Realidade das favelas no Espírito Santo
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Espírito Santo possui 516 favelas e comunidades, abrigando cerca de 600 mil pessoas.
Desses, mais de 70 mil vivem em locais de difícil acesso, onde os meios de transporte mais comuns são moto, bicicleta ou até a caminhada.
Fora dessas comunidades, o número de pessoas que enfrenta tais dificuldades de mobilidade é significativamente menor, cerca de 1,5%.
Propostas para melhorar a acessibilidade
A presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado (CAU-ES), Priscila Ceolin, propõe soluções inovadoras para enfrentar o problema da mobilidade nas favelas.
Entre as sugestões estão planos elevados, teleféricos e até escadas rolantes, semelhantes aos modelos adotados em países como Chile e Colômbia.
Seria uma excelente solução para Vitória, e é uma solução de baixo custo. Apesar de na implementação talvez tenha que se realocar alguns moradores, no uso, no cotidiano, ele é de baixa manutenção e um gasto energético muito baixo também.
Priscila Ceolin, presidente CAU/ES
O que dizem governo do ES e prefeituras
O governo do Espírito Santo informou, por nota, que já investiu R$ 1,157 bilhão em obras de pavimentação e drenagem desde 2019, contemplando 58 municípios e priorizou áreas vulneráveis.
Em 2025, os repasses somam R$ 288 milhões para intervenções em 11 cidades para melhorar a mobilidade, o escoamento de águas e o acesso a serviços.
As obras são executadas pelos municípios. A reportagem da TV Vitória entrou em contato com as prefeituras de Vitória e Cariacica para saber o que pode ser feito nas ruas mostradas nesta reportagem.
A Prefeitura de Vitória informou que a Central de Serviços irá enviar uma equipe vai ao local analisar o que precisa ser feito.
A Prefeitura de Cariacica não enviou resposta até o fechamento desta reportagem. O texto será atualizado assim que houver retorno.
*Com informações da reportagem do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record