Mensageiros, cartas, e-mails e o whatsapp que agora domina.
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A evolução parece natural, mas nossa mente certamente não esta preparada para este salto. Segundo Mehrabian, 93% da comunicação é não verbal. Gestos, olhar, tom de voz. No whatsapp, tudo isso desaparece. A comunicação fica como aleijada.

Iniciar uma conversa pela rede pode ser mais desafiador que parece. Como devo me apresentar? Perguntar sempre se está tudo bem? Cada um elabora sua estratégia. A sociedade aos poucos acata maneiras como as mais corretas, mas ainda navegamos sem etiqueta definida. Seriam as mesmas regras de conversas presenciais? Ou de e-mails formais? Um meio do caminho, talvez.

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O tempo de resposta do interlocutor dá tempo de fazer filmes na cabeça, projetar. Mas qual o tempo aceitável para aguardar uma resposta? Aqui entram questões de etiqueta para um espaço que ainda não tem etiqueta consolidada.

E a ética? Encaminhar mensagens sem contexto, expor conversas privadas, responder em horários inadequados. Os limites estão sendo testados diariamente.

A linguagem não verbal permite uma imagem realista da comunicação. Na digital, isso se perde. Criaram-se emojis para tentar substituir.

Mas a interpretação daquelas figuras é a mesma para todos? Usar infantiliza? Não usar torna a troca seca? A tecnologia agiliza, da velocidade, mas não substitui as emoções humanas.

As frases precisaram ser compactadas, mas até que ponto? E mandar áudio? É aceitável apenas para conversas pessoais ou também profissionais? Será que a tendência futura será os áudios? Mensagens curtas não são capazes de resumir a complexidade, compridas incomodam.

O problema é que o ser humano faz leitura emocional de uma mensagem escrita, mesmo contra sua vontade. Isso pode causar stress, ansiedade ou projeção.

Qualquer comunicação funciona se estivermos conscientes das suas limitações. No WhatsApp: falta profundidade, não dá para escrever como falamos, ausência de gestos e olhar, dificuldade para o diálogo fluido, falta de atenção plena no tema. 

A pergunta é: o que eu espero desta comunicação?

Como falar de um assunto delicado por mensagem? 

Uma coisa é certa evite discussões ou negociações pelo WhatsApp, momentos onde o não verbal é essencial para observar as emoções. 

Não use o canal equivocado para o tipo de interação que necessita. Atenção o que não se diz, se interpreta, claro.

O que precisa ser comunicado é algo emocionalmente potente? Complexo de explicar? Precisa chegar a um acordo? 

Defina se o canal é adequado. O maior risco não é se comunicar mal. O maior risco é usar a ferramenta errada esperando resultados que ela não pode entregar.

Quando a internet chegou, também criou desafios. Aos poucos foram superados. Aprendemos a nos comunicar por e-mail, a navegar em redes sociais até a construir relacionamentos digitais. 

Por isso é importante refletir sobre o tema para usar com inteligência e da melhor forma o que temos.

Maya J. Gobira Meneghelli

Colunista

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.