
Luisa tem somente 17 anos. E, mesmo assim, sente o peso de decisões que muitos carregam adultos: o que vai fazer na vida, qual faculdade vai cursar, em que estado quer morar, qual profissão vai seguir. Luisa, minha irmã, tem que tomar todas essas decisões no curto período de cerca de oito meses que antecedem o início dos vestibulares. Há momentos em que a pressão paralisa, exatamente no momento que é necessário estar em maior movimento: escolher cedo significa determinar um caminho que, em sua cabeça, será seguido por décadas. Mas até que ponto impor essa responsabilidade nessas crianças é justa? Até que ponto eles estão preparados (mental, emocional, e socialmente) para uma decisão desse porte? E mais importante, nós, os adultos, fizemos um bom trabalho em prepará-los?
Parece um jogo maníaco de xadrez, no qual a percepção é, que se você mover o cavalo para a casa 3C em vez da 3A, o tabuleiro irá desmoronar e sua vida, junto com ele. Talvez essa percepção pareça um exagero, mas em muitos casos a decisão errada pode de fato custar caro.
Minha irmã, ainda que apenas alguns anos mais nova, é de uma geração diferente da minha. Não confiamos que esses jovens, ainda vistos como imaturos para beber ou fumar, tenham discernimento suficiente para escolhas simples do cotidiano — mas esperamos que definam, sem hesitar, o rumo de toda a sua vida.
Desde antes dos 15 anos há expectativas explícitas e implícitas sobre esse rumo. Professores e família já querem saber o curso que você vai seguir. Se você é bom em matemática, provavelmente deve virar engenheiro. Gosta mais de biologia? Você tem mesmo cara de médico… Ah, mas se sua praia é história, você seria um ótimo advogado! Minha irmã compartilhou uma angústia que se tornou em uma reflexão: como essas crianças podem ter o peso de decidirem o resto de suas vidas com esse nível de maturidade?
A pressão da escolha profissional precoce
Há diversas pesquisas que indicam que ter de decidir a sua carreira muito cedo pode causar, além de arrependimento depois, estresse psicológico elevado e baixa autoestima. Em uma pesquisa da Universidade de Groningen na Holanda explicita exatamente isso, mostrando que aqueles alunos que mostravam problemas na escolha de carreira são os que relatam maior nível de problemas psicológicos. Após uma orientação vocacional eficiente, esses problemas foram altamente reduzidos.
Mas não podemos tirar a nossa responsabilidade desse problema. Foi feito um estudo na Faculdade de Estudos da Saúde na Turquia que prova que ter experiências positivas na infância é o maior contribuidor para que as pessoas desenvolvam maior capacidae de escolha profissional consciente. Ou seja: quanto mais apoio e menor pressão, melhor condição o jovem tem para sentir menos culpa e arrependimento no futuro.
A Geração Z e o mercado de trabalho
Minha irmã, acredito que exemplificando o tom que a geração Z traz para o mercado de trabalho, diz querer fazer algo que lhe dá sentido na vida. Discurso muito diferente do que se ouvia 10 anos atrás, quando foi a minha hora de decidir – naquela época focavamos no que traria um retorno financeiro bom, ou alguma área que poderíamos construir uma carreira de sucesso, pouco nos importando com a paz interior que a carreira traria. Quando paro para pensar, percebo o quão injusta é essa comparação.
Assumir o futuro não é uma carga que deveria ser colocada sobre os ombros de quem é jovem. É importante sim tomar decisões que possam ter consequências, mas sem se apavorar com o medo. Entender que se arrepender é uma parte do processo, significa construir uma identidade em um mundo que é tão difícil ser diferente do outro, mas sem deixar que as expectativas externas definam quem você é. No meio disso, fica o ponto principal: a responsabilidade. Não só de escolher, mas de assumir o resultado.
Minha irmã, com seus 17 anos, pode não ter todas as respostas – e está certo que não tenha. Esperado até. O que ela e tantos jovens precisam entender é que errar não é só comum, mas às vezes necessário. Lidar com as consequências das nossas escolhas faz parte da responsabilidade de escolher. A sociedade, por sua vez, precisa diminuir a pressão e atualizar o discurso. Oferecer apoio e reconhecer que nenhuma escolha é definitiva.
E Luísa, se eu pudesse te deixar uma mensagem, seria para não se preocupar, que mesmo se tudo der errado, as coisas ainda vão dar certo.