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'A Espiã Que Sabia de Menos' diverte com inteligência

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São Paulo – Paul Feig pode não ter a fama de Judd Appatow, que virou o rei de um segmento da comédia norte-americana, mas é bom prestar atenção no que o diretor de 52 anos, nascido em Michigan, está fazendo (e dizendo). Feig criou a série Freaks and Geeks e dirigiu episódios de The Office e Mad Men, mas sua grande parceria está sendo com Melissa McCarthy, com quem fez Missão Madrinha de Casamento, As Bem-Armadas e A Espiã Que Sabia de Menos. Os dois primeiros foram muito bem de bilheteria. O último está em plena carreira. Melissa faz uma analista da CIA chamada a desempenhar atividade de campo quando criminosa suspeita de possuir arma nuclear nocauteia o espião-mor, Jude Law.

A Espiã Que Sabia de Menos decola com um prólogo que poderia estar nas aventuras de James Bond. Jude Law faz o espião que invade o labirinto de uma fortaleza em busca da tal arma nuclear. Usa um fone de ouvido, pelo qual recebe informações/instruções de Melissa, que se chama Susan. Ela, como boa parte da plateia feminina, ama o agente bonitão, representado por Law, que a People não tira da sua lista de homens mais sexys do mundo. Como a secretária de 007, Moneypenny, Susan sonha com o impossível – a atenção de Law. Acontece algo – veja para saber o que – e a analista é despachada para Paris, para assumir a missão.

Feig tem feito filmes de gênero, mas subvertendo os respectivos códigos. Comédia romântica (Missão Madrinha de Casamento), policial (As Bem-Armadas) e agora espionagem. Subverter não significa necessariamente parodiar, embora os elementos estejam todos lá, mas dispostos e utilizados de uma outra maneira. Digamos que A Espiã é um filme de ação, mas com investimento pesado no humor, em vez do drama. Jude Law sai de cena e entra o superagente Jason Statham. Seu currículo é impressionante e ele conta, num tom monocórdico, suas aventuras. “Uma vez invadi um trem na direção de um carro…” Epa, é o personagem falando ou o próprio Statham, que realmente já fez isso nas suas fantasias de ação produzidas por Luc Besson.

O tom mecânico como ele fala choca-se com a verborragia entusiasmada de Susan/Melissa, que, afinal, está vivendo sua primeira missão importante. Melissa é gordinha – fofa -, mas não representa o papel com a tradicional condescendência com que os roteiristas de Hollywood tratam os diferentes, os que não se enquadram no modelo wasp. Um dos aspectos mais interessantes do roteiro é que a agência disfarça a atividade de Susan, transformando-a numa turista típica. Mesmo seu arsenal de ‘armas’ é adequado ao que se espera da bolsa de uma turista. Mas Susan rebela-se – “Pareço uma tia homofóbica?” Pode até ser que, eventualmente, A Espiã Que Sabia de Menos não reproduza os números bem-sucedidos das parcerias anteriores de Feig e Melissa, mas o filme não apenas é o melhor da dupla como a própria Melissa cria nele seu melhor papel.

Em As Bem-Armadas, Sandra Bullock e ela se completavam para criar uma entidade que não era bem a superpolicial, mas uma não existia sem a outra. Na Espiã, sem deixar de fazer rir, Melissa é boa de ação e Susan ainda é doce, humana, um encanto de pessoa. De pessoa, sim, porque a personagem não está ali apenas para fazer rir, mas possui uma curva, uma psicologia. O conflito principal – confronto – dá-se entre Susan e sua nêmesis, a vilã Rose Byrne, que também está muito bem no papel.

Em torno delas, gravitam os demais personagens, com reforços significativos, como o do taxista italiano, Aldo, que se insinua para a protagonista. Pode parecer pouca coisa, mais Feig subverte, mais uma vez, o cânone, ao se recusar a providenciar um interesse romântico – um final feliz – para a sua mocinha. Mas ele termina o filme em aberto, com a possibilidade de um(a) Espiã 2.

O próprio título brasileiro merece reflexão. Em diferentes fases de sua carreira – na Inglaterra, nos anos 1930, e em Hollywood, nos 50 -, o mestre do suspense Alfred Hitchcock contou e recontou a história de O Espião Que Sabia Demais. Susan, embora seja analista – e oriente a ação de Jude Law no começo -, é apresentada, pelo contrário, como a espiã que sabe de menos. O título termina sendo enganoso – uma gracinha -, porque, na verdade, A Espiã participa de uma tendência dominante no cinemão, o ‘empoderamento’ das mulheres. A palavra não soa bem. É o aportuguesamento de expressão inglesa. O bom é que o empoderamento de Melissa se faz com humor, e ternura. Que venha/venham mais aventuras da cativante Susan. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.