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Abolição dos feriados religiosos detona guerra em 'Antideus'

Na montagem de Carlos Canhameiro esse embate surge quando o presidente de um país decide revogar todos os feriados religiosos, explica o autor e diretor que já foi católico e protestante.

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Abolição dos feriados religiosos detona guerra em 'Antideus'
Peça Antideus Foto: Divulgação

São Paulo – Não é fácil esquecer de um grupo de crianças lançando bombas num quadro com o rosto de Cristo na peça Sobre o Conceito da Face do Filho de Deus, do italiano Romeo Castellucci, que passou por São Paulo em 2013. Na buscar por engrossar esse coro contemporâneo, estreou na sexta, 7, o espetáculo Antideus, no Centro Cultural São Paulo.

Na montagem de Carlos Canhameiro esse embate surge quando o presidente de um país decide revogar todos os feriados religiosos, explica o autor e diretor que já foi católico e protestante. “É uma tentativa de colocar a religião na mesa de discussão, mesmo que achem que é preciso relevar, como futebol e política.”

Para ele, o tema e seus representantes estão soltos por aí querendo legislar sobre a vida e as escolhas alheias, o que atrapalha o conceito de laicidade e a presença de igrejas e instituições religiosas no exercício do poder político. “Precisamos discutir religião quando o Brasil tem uma bancada organizada que quer decidir se as mulheres podem ou não abortar ou sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo.”

Em cena, no alvo também estão os católicos, judeus e muçulmanos. “Em geral, quem mais sofre com essas doutrinas são as mulheres e as pessoas LGBT, que não podem se comportar de outra maneira senão seguir os dogmas religiosos, sob o risco de punição.” Canhameiro acrescenta que o limite é ultrapassado quando a vida é colocada em risco pela proteção a crença. “Quando uma religião escolhe matar pessoas e justificar o ato com o nome de um deus, é porque já estamos falidos.”

Com uma estrutura fragmentada, a peça apresenta quadros conduzidos pelo elenco, em meio a um jantar entre amigos. Quem integra o palco, e pela primeira vez como ator, é o cantor e bailarino Lineker. Ele conta que imaginava que o convite da direção fosse apenas para cantar. “Aos poucos, estudando o texto, fomos incorporando meu trabalho nas cenas”, explica. Lineker explica que, de todo modo, não foi um trabalho distante do que faz como cantor e bailarino. “Nos shows eu também lido com a comunicação, com minha imagem em diálogo com o público.”

Para ele, a encenação de Canhameiro traz nessa discussão obscura um tema que quase sempre é deixado de lado, enquanto avança sem freios com políticas conservadoras por parte da bancada evangélica. “Eu tive formação católica e vejo como é difícil se desfazer de ideias que não fazem parte da minha vida. Imagine em um país”, avalia. “Trazer essa pauta ao teatro ajuda a provocar a todos. De alguma forma na religião tem muita coisa que a gente pensa, mas não tem coragem de dizer.”

ANTIDEUS

Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000. Tel.: 3397-4002. 6ª, sáb., 21h, dom., 20h.

R$ 10. Até 30/7.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.