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Ana Beatriz Nogueira encarna relatos femininos

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São Paulo – “Não é de propósito que eu ando devagar, que eu esqueço minhas falas.” A frase pronunciada pela atriz Ana Beatriz Nogueira surgiu com um leve retoque cansado, para que desse a dimensão da personagem Clô. A senhora decide escrever uma carta para o marido morto, para contar a ele como tem sido envelhecer. Além de Clô, a atriz incorpora mais cinco relatos de mulheres retirados de Tudo Que Eu Queria Te Dizer, livro de Martha Medeiros que virou espetáculo em 2010 e que entra em cartaz nesta sexta, 6, no Teatro Renaissance. “Essa é a história que mais me emociona nos últimos anos”, diz a atriz.

O time feminino se completa com as confissões de Renata, uma mulher desiludida com o casamento; Dirce, a paciente de um analista que decide escrever para ele seus sentimentos mais profundos e impronunciáveis; Clarissa, uma terapeuta que comunica ao casal de pacientes que está apaixonada pela mulher e que, portanto, não poderá dar prosseguimento à terapia; e a amante Andressa, que encaminha um desabafo à mulher de seu ex-amor. “A Andressa tem uma grande ousadia e coragem ao se dirigir à mulher que possuía a fonte de seu amor”, pontua Ana Beatriz. “Mas todas elas têm um ponto em comum. Essas mulheres estão no limite de uma transformação e que, após se declararem, nunca mais serão as mesmas.”

A montagem dirigida por Victor Garcia Peralta tinha sido concebida para dois atores, Ana Beatriz e Felipe Camargo, mas ainda durante os ensaios, o ator não pôde continuar. “Até procuramos outros atores, mas senti que eu deveria seguir assim”. A atriz conta que, então, foi seu primeiro “monólogo acidental”. A peça chegou a circular por quase todo o Brasil, mas ainda não tinha desembarcado em São Paulo. “Fiquei com um pouco de dor de cotovelo e agora confesso que estou ansiosa, quase sinto borboletas no estômagos”, brinca Ana Beatriz. “Precisava me apresentar aqui.” Com diversos projetos em andamento, Ana Beatriz conta que não podia perder o frescor da montagem. “Se eu não visitasse as cartas agora, sinto que ia passar tempo demais.”

Ana Beatriz Nogueira ressalta que a grandeza do texto de Martha está na rápida identificação de quem lê. “Além de ser uma grande autora, ela é uma grande comunicadora, que cria um universo e não exclui ninguém.” Ana Beatriz vai além e afirma que Martha rompeu as fronteiras da literatura. “Ela também fez um grande trabalho de atriz ao conceber figuras tão claras e complexas, com vocabulários próprios e formas de se dirigir ao outro.”

Para a atriz, a indignação é outro elemento identificável entre as personagens de Tudo Que Eu Queria Te Dizer. Ana Beatriz conta que essa revolta feminina não lhe parecia tão clara quando estreou a montagem. “Os tempos passam e nós mudamos. Ou elas sempre foram indignadas ou sou eu quem estou mais indignada hoje.” Ela justifica essa sensação à própria luta das mulheres na atualidade. “Nós avançamos muito, conquistamos coisas impensáveis, mas, por vezes, o tempo parece regredir e voltamos à mesma situação anterior, de falta de dignidade e respeito com a mulher. Precisamos continuar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.