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Andar de ônibus. Que arte há nisso? É flagrante a tensão  que o transporte urbano nos impinge. Vivemos isso no dia a dia das grandes cidades. Mas querendo ou não, esse é o meio de transporte mais utilizado no Brasil e nele, muita gente passa muitas horas do dia. Precisamos refletir sobre esse assunto.

Eu já viajei muito de ônibus e, como muitos brasileiros já reclamei, já tive dores de cabeça, mas também  já tive muito prazer com esse tipo de transporte.

Recentemente, por ter minha carteira de motorista suspensa por  sete meses e por ter passe livre, voltei a usar mais esse meio de transporte. Esses dois fatos  por si, cada um delas merecia um texto próprio, porque são muitas percepções  quando as vivenciamos, mas vou falar somente algumas linhas do andar de ônibus de casa para o trabalho.

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O que é andar de transporte urbano? Claro, primeiramente é o ato de se deslocar  de maneira mais econômica na cidade. Por muitas circunstâncias esse deslocar passou a ser um tempo-espaço perdido, sofrido, apertado sacolejado dentro de uma lata velha antes e depois do trabalho.

Infelizmente essa é uma das condições da vida na cidade: a aglomeração, a pressa, a automação do trabalho, a alienação dos encontros sociais e pessoais nos ônibus, a precarização do transporte urbanos, a insegurança, a violência, o medo. Do outro lado cresceu, de maneira maquiavelicamente construída, a glamourização do transporte em carros individuais. Esta última faceta demonizou o ato de andar de coletivo dando lhe adjetivos descabíveis e preconceituosos.

Mas fato é que o transporte coletivo tem muitas faces e, muitas vezes podemos aproveitar algumas criativamente. Uma delas é observar as características e qualidades deste transporte. Andando de ônibus você pode ver a cidade, descansar, encontrar pessoas, ler, desenhar, ouvir histórias interpretar histórias. Quem não tem boas histórias de viagens de ônibus pra lembrar? Vamos contá-las? 

Vamos a elas:

Em meado do anos 80, ainda estudante, estava em São Paulo, para realizar minha primeira  exposição individual na antiga Galeria Itaú. Numa dessas, precisava ir um lugar levando dois quadros medindo 100x80cm. Emoldurados. E eu peguei um ônibus lotado. Com meu pacote era difícil de dar um passo. Um passageiro, me vendo naquela situação sugeriu: você vai para frente que a gente passa os quadros por cima até você lá.

Eu topei e fui para frente, e, só ouvi gritaria dentro do ônibus: cuidado, pega aí fulano, é obra de arte! Eu vi meus quadros serem transportados por várias mãos acima da cabeça até chegarem às minhas lá na frente. Eu os  peguei  e agradeci. E quando estava saindo, alguém  gritou lá de trás: “Quando você for famoso, lembre-se desse dia!

Continua na próxima publicação.

Fernando Augusto

Colunista

Artista plástico, pintor, desenhista e fotógrafo. Professor do Departamento de Artes da UFES. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP - Sorbonne).

Artista plástico, pintor, desenhista e fotógrafo. Professor do Departamento de Artes da UFES. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP - Sorbonne).