Sol LeWitt, "A Sphere Lit From the Top, Four Slides and all their combination", 2004.
Sol LeWitt, "A Sphere Lit From the Top, Four Slides and all their combination", 2004.

*esse texto é a continuação de texto publicado pelo autor. Para ler acesse aqui: https://www.folhavitoria.com.br/cultura/arte/arte-para-os-olhos-ou-arte-para-a-mente/?utm_source=whatsapp&utm_medium=lista&utm_campaign=cultura&utm_content=arte

A imagem que abre esta segunda parte do texto é uma foto tomada da obra “A Sphere Lit From the Top, Four Sides, and All Their Combinations”, de 2004, traduzindo: Uma esfera iluminada por cima, por quatro lados, e todas as suas combinações, deSol Lewitt.

Cabe esclarecer que as fotografias da esfera não foram produzidas pelo artista, mas por outra pessoa, embora decorressem de uma proposição, criada por ele. Ou seja, o artista elabora instruções para serem executadas por terceiros. Esta estratégia se tornou comum nessa tendência estética e, nesse sentido, a mente passa a ser mais requerida do que a visão.

A chamada Arte Conceitual ou Conceitualismo exige a reflexão sobre processos de apreensão, compreensão e interpretação que vão além da imagem ou da aparência daquilo que é mostrado ou dado à apreciação. O que se valoriza é a ideia ou conceito por trás da obra, o que vai além da aparência física estimulando o pensamento crítico a partir de imagens, textos e objetos ou como já dito: instalações, intervenções, ocupações, ocorrência e performances.

Alguns aspectos como propostas ou processos, ações, condutas ou comportamentos são, por definição, Obras de Arte. Outros como apropriações de objetos, intervenções ou ocupações de locais ou ambientes, desmaterializações, degradação ou mesmo a inexistência de algo e até questionamentos sobre o papel da Arte, da produção artística e suas relações entre produtores, mediadores, críticos, mercado e público se tornam proposições estéticas passíveis de apreciação.

Para situar melhor essa ideia, a “Arte Conceitual” surge de Art Concept, termo usado em 1961 por Henry Flynt, filósofo, músico e artista norte-americano. Surge como crítica à arte tradicional e à vanguarda formalista da época e em defesa da Arte como pensamento. Postura adotada por outros artistas ao debater questões conceituais em detrimento de questões formais. Entre eles Sol LeWitt, um dos primeiros artistas a colocar em prática questões conceituais publicando, em 1967, o texto Paragraphs on Conceptual Art.

Além deles outros como o já citado Joseph Kosuth, Lawrence Weiner, Yoko Ono e muito antes deles, Marcel Duchamp intuíra tal conduta em 1917, ao apresentar a obra “A Fonte”, uma peça sanitária:

Acima a fotografia da obra original de Duchamp, documentada por Alfred Stieglitz, por ocasião da mostra inaugural da Sociedade dos Artistas Independentes, em NY, no Grand Central Palace, em abril de 1917. Ao fundo, no cenário, a pintura The Warriors, de Marsden Hartley.

A imagem que abriu a primeira parte desse texto foi “One and Three Chairs”, uma obra de Joseph Kossuth, produzida em 1965, ou seja, há 60 anos. Vale ressaltar que, em termos de existência artística, esse período é muito curto, portanto, ainda é nova e contemporânea.  Mostra uma cadeira física, uma foto da cadeira e a definição da palavra cadeira tomada de um dicionário.

A obra explora, por meio da presença física da cadeira, de uma representação visual fotográfica e da definição verbal na língua três modos de presença: são três significantes, ou seja, manifestações conceituais de cadeira, mas que possuem apenas um significado: a essência de cadeira. Embora cada significante seja representado por um processo de significação: objeto, foto e descrição, o conceito ou a ideia de cadeira permanece integralmente. Na própria cadeira existe enquanto objeto de mobiliário útil e utilizável, na fotografia existe enquanto representação visual e no verbete, existe enquanto definição textual, estes três modos dão existência a um só objeto.

Mas foi Sol LeWitt, quem criou um documento formal ao estabelecer ao elaborar instruções e critérios para a realização/replicação de suas obras e, consequentemente, facilitou a instauração de Obras Conceituais. Tais instruções se tornaram “modus operandi” tanto para executá-las quanto definir a posse e autorização para executá-las por outrem. Isso se torna uma espécie de “título ao portador” que autoriza alguém a replicá-las e também comercializá-las.

Maurizio Cattelan, “O comediante”, 2019.

Isso possibilitou, por exemplo que, Maurizio Cattelan, concebesse sua série “Comedian”, instalações realizadas com bananas fixadas na parede. Nesse caso a Obra de Arte não é a banana, mas sim um documento que identifica seu proprietário, o autoriza a replicar a instalação quando, onde quiser e, inclusive, revende-lo. Nesse caso o que permanece como parte essencial das obras são as ideias que as evocam e não a forma ou existência física que as constituem, por isso Conceituais, portanto, Mentais.

Pense nisso!

Isaac Antônio Camargo

Colunista

Professor, artista e pesquisador, graduado na Licenciatura em Desenho e Plástica, Mestrado em Educação, Doutorado em Comunicação e Semiótica. Atua no ensino no campo da Arte desde 1973, atualmente como professor associado nos cursos de Artes Visuais da UFMS. Desenvolve várias atividades de produção artística participando de mostras e como curador na produção de eventos. Realiza pesquisas sobre e em Arte Visual. Mantém o site www.artevisualensino.com.br destinado ao apoio de atividades didático/pedagógicas e difusão em Arte Visual.

Professor, artista e pesquisador, graduado na Licenciatura em Desenho e Plástica, Mestrado em Educação, Doutorado em Comunicação e Semiótica. Atua no ensino no campo da Arte desde 1973, atualmente como professor associado nos cursos de Artes Visuais da UFMS. Desenvolve várias atividades de produção artística participando de mostras e como curador na produção de eventos. Realiza pesquisas sobre e em Arte Visual. Mantém o site www.artevisualensino.com.br destinado ao apoio de atividades didático/pedagógicas e difusão em Arte Visual.