A favela no tribunal em exposição de arte

Sabe aquela sensação de entrar num lugar onde você sempre foi julgado — mas, dessa vez, é pra ser aplaudido? Pois é. A partir de 20 de outubro quem vai ocupar o Tribunal de Justiça do Espírito Santo não são réus, advogados ou juízes de toga. São meninos e meninas de Flexal 2, em Cariacica, que chegam trazendo arte, câmera na mão e um novo olhar sobre o mundo.

A exposição “Meu Presente é um Presente”, do Instituto Aprender Cultura (IAC), transforma o tribunal em galeria e coloca a favela no centro das atenções — com dignidade, identidade e beleza. As imagens capturadas no coração de Flexal 2 revelam o poder de transformar o cotidiano em poesia visual. Cada fotografia é uma sentença de arte!

Pode parecer apenas uma mostra fotográfica, mas o que está em jogo é simbólico. Segundo o CNJ, mais de 60% das pessoas presas no Brasil vêm de territórios periféricos e de maioria negra. São esses corpos que o sistema acostumou a ver atrás das grades — não atrás das lentes. Por isso, ver a favela ocupando o espaço da Justiça com arte é um ato político, poético e profundamente necessário.

A Iniciativa e o Instituto Aprender Cultura

A iniciativa nasceu de uma articulação das voluntárias Greice Venturi e Tais Valle, com a educadora de fotografia Amanda Nogueira, dentro do projeto Laboratório dos Sonhos — um dos cinco programas permanentes do IAC. Só em 2025, o Instituto já atendeu mais de 400 crianças, adolescentes e mulheres, promovendo acesso à arte, à educação e à transformação social.

Fundado em 2012, na Rua da Liberdade, em Flexal 2, o Instituto Aprender Cultura é o tipo de organização que carrega no nome o próprio propósito: aprender e ensinar cultura como quem respira. Cresceu com apoio da comunidade, recursos conquistados em editais públicos e parcerias que acreditam na potência das periferias. Hoje, o IAC mantém projetos como o Líder de Líder, o Museu de Casas do Flexal (Mucaf), a Cooperativa Fashion Week Favela e a Act Agência-Escola, sempre com um pé na arte e outro na transformação social.

Exposição e Impacto Social

Com o patrocínio da EDP Energias do Brasil, o projeto Laboratório dos Sonhos leva 20 obras da turma de fotografia ao Tribunal de Justiça com uma mostra que deve alcançar cerca de 10 mil visitantes até o dia 7 de novembro. Todo o valor arrecadado com a venda das fotos será revertido para o próprio Instituto — fortalecendo o ciclo de impacto e pertencimento. Pra além das fotografias, o público também poderá admirar as telas de arte do Atelier Bianca Romano durante os dias 20 de outubro e 07 de novembro.

Porque, dessa vez, a favela está no tribunal — mas não pra ser julgada. Está lá pra mostrar sensibilidade, orgulho e luz.