
Ao logo dos séculos a Arte Visual consagrou a imagem como base de criação e presença estética. As imagens elaboradas pelo ser humano desde a pré-história definiram a maior parte de seu percurso desde então.
Não há dúvidas de que para concebê-las e cria-las foram desenvolvidos vários domínios e habilidades, ou seja, competências cognitivas e psicomotoras para produzi-las e também para o desenvolvimento das muitas realizações humanas.
Nesse sentido, embora a Arte fosse uma de suas primeiras realizações, talvez tenha sido a que mais exigiu observação, abstração e imaginação.
Inicialmente a elaboração de imagens assemelhadas à natureza, especialmente, aos animais com os quais convivia marcou a figuração, depois as representações de figuras humanas e sobrenaturais, acontecimentos, cenas e simulações subsistem até hoje.
A imitação, a representação se tornaram referenciais visíveis e simbólicos capazes de atrair, encantar e simular. As imagens ocupam um lugar privilegiado na sociedade e não apenas no campo da Arte Visual, mas em diversos contextos estimulando, inclusive, teorias como a da Cultura Visual e debates atuais como as sintetizadas pelas chamadas Inteligências Artificiais.
O apelo aos olhos e à visão capitaneou praticamente a produção imagética, no campo da Arte Visual, até o século XX, contudo a partir dele surgiram proposições que destituíam ou restringiam as imagens como fonte exclusiva de criação e reflexão instaurando novos modos de criar e expressar valores, sentidos e significados.
Instalações, intervenções, ocupações, ocorrências e performances passaram a fazer parte das manifestações artísticas de tal modo que as imagens deixaram de ser as únicas fontes de referência estética. Tais condutas foram intensificadas com a Abstração e o surgimento do Conceitualismo cujas proposições dispensavam a primazia da imagem representativa ou figural como fonte de interação e conhecimento, a partir daí as imagens deixaram de ser o único destino da apreciação e fruição artísticas e os olhos se tornaram vias de acesso às proposições artísticas. Não há dúvida de que a visão continuou sendo parte essencial para apreensão sensória às instalações, intervenções, ocupações, ocorrência e performances, mas o principal destino de tais obras, passou a ser a mente.
Isso não quer dizer que toda a produção artística imagética dispensasse a mente para sua compreensão e apreciação, apenas que as imagens deixaram de ser as únicas fontes de acesso à informação e expressão artísticas. Com o advento da Arte Conceitual, a visão da acesso às proposições, mas não é o único meio para promover descobertas, interpretações e apreciação.
Conta a lenda que Leonardo da Vinci, em seus escritos sobre técnicas e processos pictóricos, se refere à Pintura como coisa mental. Nada mais natural já que a apreensão, interpretação e representação de imagens dependerem da capacidade cognitiva, como também dependia da capacidade de apropriação e transformação de materiais em instrumentos e matérias artísticas e, além disso, da capacidade psicomotora para usar as mãos, o corpo e os olhos para configurar imagens. Como se observa, a mente sempre foi a matriz para a criação de todas as coisas.
Não se pode esquecer também que a produção humana requer interesse, motivação, objetividade e emoção, ou seja, afetividade, entendida como a capacidade de sentir, expressar e vivenciar sentimentos e vínculos como dimensões essenciais da experiência humana e para o desenvolvimento cognitivo na construção de valores éticos, morais e estéticos na sociedade.
Tais valores foram se constituindo e transformados com o desenvolvimento humano, como também as manifestações artísticas. O que motivou a produção artística num dado período ou lugar não permaneceu para sempre e novas possibilidades surgiram. Nesse aspecto a Arte deixou de recorrer apenas à visibilidade para explorar a conceitualidade.
Pode-se dizer, portanto, que Arte Conceitual valoriza as ideias e proposições, ou seja: conceitos em detrimento da forma ou aparência visual das obras. Foca no processo de comunicação e interação por meio da apreciação ativa estimulando os espectadores a refletirem sobre elas por meio de questionamentos e problematizações em busca de sentidos e significados estimulados pelas obras no diálogo com elas.
Aqui entra a questão que originou esse texto: a Arte é para os olhos ou para a mente? Numa resposta simples e direta: para ambos!
*Este artigo continua na próxima coluna