Foto: gravura
Crédito: gravura. Como imagens vintage escolares ajudaram a formar o pensamento crítico

Se você está vendo esta imagem pela primeira vez e achando-a meio antiga ou “vintage”, tem razão. Mas, se você a reconheceu, posso dizer com segurança que ela já tem mais de 70 anos.

Leia também: Vitória Cine Vídeo tem programação gratuita e tributo a Ney Matogrosso

Ela, assim como várias outras, fazia parte de coleções de estampas editadas nas décadas de 1940–1960, destinadas a atividades escolares. Em geral, apresentavam cenas do cotidiano, paisagens urbanas ou rurais e aspectos culturais do Brasil.

Eram utilizadas nas práticas pedagógicas como atividades para o desenvolvimento da observação, imaginação, interpretação e expressão verbal escrita. Promoviam a construção de narrativas a partir da escrita criativa, estimulada pela observação detalhada das imagens, ampliando o vocabulário descritivo e a interpretação subjetiva.

Naquele período, a escola primária era chamada de Grupo Escolar, e esse tipo de atividade era empregado no 3º e 4º anos, nas aulas de “Linguagem”, com crianças de 9 a 11 anos. Essa prática parece ter origem em métodos europeus de ensino, especialmente franceses, que valorizavam as imagens como fonte de conhecimento.

No Brasil, a instauração do movimento da Escola Nova, a partir do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita, investindo na valorização e protagonismo do estudante.

Apropriação e apreensão das imagens

Mas o que isso tem a ver com a Arte Visual? A apropriação ou apreensão de imagens tem aspectos positivos e negativos.

Aspectos positivos: um deles é a inserção do uso de imagens no ambiente de ensino. Naquela época, o combate a elas era intenso.

Acreditava-se que ilustrações e revistas ilustradas, como os “gibis”, competiam com livros didáticos e com a literatura, promovendo uma espécie de “preguiça mental”, pois revelavam tudo sem dar oportunidade de exercitar a mente, a imaginação ou a fantasia; outro, a promoção de atividades que recorriam à observação das imagens com fins interpretativos e narrativos, expandindo a capacidade de expressão escrita; mais um: o uso de diferentes tipos de imagens — estampas, gravuras, fotografias e outras reproduções — permitia a construção de um repertório imagético, facilitando memorização e estratégias de apreensão e compreensão. Isso se relaciona com o que hoje chamamos de apreciação, interpretação e ressignificação.

Atuava como uma forma de aprendizagem visual, auxiliando os estudantes no desenvolvimento da análise crítica.

Pelo lado negativo, atualmente, essa abordagem tende a ocorrer apenas nas disciplinas dedicadas à Arte Visual. Ainda assim, há dificuldades para aproximar os jovens da interpretação de imagens, pois boa parte do acesso se dá pelas mídias sociais — especialmente por plataformas digitais como TikTok e Instagram.

O problema maior está na padronização e hegemonização, que provocam uma assimilação passiva — ou seja, simples consumo. Os sistemas dominantes de informação e comunicação, financiados pelas Big Techs que controlam as redes sociais, obscurecem a capacidade de apreensão ativa, crítica e valorativa. Isso enfraquece a reflexão crítica, que poderia ajudar as pessoas a escapar da imposição midiática, portanto, a regra é consumir sem refletir.

As mídias sociais, os algoritmos e os reforços de narrativas

As mídias sociais desempenham um papel central na forma como as imagens são utilizadas, compartilhadas e percebidas socialmente, por meio de estratégias como:

Mecanismos de busca algorítmica: impõem imagens com base nas mais buscadas, moldando tendências visuais e influências culturais, promovendo uma padronização estético-visual.

Reforço de narrativas: as imagens mais procuradas revelam padrões de grupos sociais, bolhas e segmentos, reforçando identidades, causas, campanhas e interesses dominantes por meio de valores e emoções.

Não podemos ignorar que esses sistemas muitas vezes subvertem ou ignoram normas, regras e até questões éticas e morais. A apropriação de dados nem sempre respeita autorização, autoria ou propriedade intelectual. Embora teoricamente submetidas às leis locais, essas plataformas acabam se tornando “ilhas desterritorializadas” com regras próprias ou indefinidas.

Quem se sentir prejudicado deve buscar justiça. Uma ferramenta útil é o Reverse Image Search, que ajuda a identificar o uso não autorizado de imagens.

As ferramentas generativas, conhecidas como Inteligência Artificial, atuam sobre dados disponíveis na internet sem restrições, sejam imagens, textos ou documentos.

Existe uma ilusão de democratização na captação e produção de conteúdo, porém, na prática, há intensa concentração de dados em plataformas específicas, instaurando uma reserva de domínio voltada ao uso comercial por quem as controla, mas não por quem as alimenta.

Isaac Antônio Camargo

Colunista

Professor, artista e pesquisador, graduado na Licenciatura em Desenho e Plástica, Mestrado em Educação, Doutorado em Comunicação e Semiótica. Atua no ensino no campo da Arte desde 1973, atualmente como professor associado nos cursos de Artes Visuais da UFMS. Desenvolve várias atividades de produção artística participando de mostras e como curador na produção de eventos. Realiza pesquisas sobre e em Arte Visual. Mantém o site www.artevisualensino.com.br destinado ao apoio de atividades didático/pedagógicas e difusão em Arte Visual.

Professor, artista e pesquisador, graduado na Licenciatura em Desenho e Plástica, Mestrado em Educação, Doutorado em Comunicação e Semiótica. Atua no ensino no campo da Arte desde 1973, atualmente como professor associado nos cursos de Artes Visuais da UFMS. Desenvolve várias atividades de produção artística participando de mostras e como curador na produção de eventos. Realiza pesquisas sobre e em Arte Visual. Mantém o site www.artevisualensino.com.br destinado ao apoio de atividades didático/pedagógicas e difusão em Arte Visual.