Acredito que muitas pessoas já ouviram falar do “efeito manada”, uma conduta coletiva na qual as pessoas seguem cegamente uma tendência sem qualquer motivo ou razão aparente: um comportamento reflexo, mas ironicamente irrefletido.
Isso se dá quando há alguma pressão ambiental ou social que leva a ações miméticas, imitativas, como “seguir o líder”, ações deste tipo revelam baixo esforço mental, medo ou insegurança. Biologicamente tem origem no comportamento animal, ou seja, as manadas tendiam a agir em grupo por proteção contra predadores.
Para justificar, pode-se atribuir tal comportamento, à memória remanescente herdada da ancestralidade pré-histórica quando agir em grupo era uma estratégia de defesa e sobrevivência.
Contudo, hoje em dia, com o processo de transformação pelo qual a humanidade passou e a quantidade de informação disponível faz com que esse comportamento se mostre como algo extremamente irracional.
Embora psicologicamente explicável este tipo de conduta tende a ser nocivo na medida em que pessoas, amparadas em interesses escusos, econômicos ou sociais, manipulam outras levando-as a agir impulsivamente ou compulsivamente realizando ações irrefletidas como comprar coisas sem necessidade, acreditar em fake news ou pior, atuar com violência contra certos valores, pensamentos ou indivíduos.
O mais perceptível na atualidade é a manipulação de massas realizada por supostos líderes políticos, religiosos ou influenciadores que se aproveitam e se apropriam da vontade alheia em benefício próprio.
Mas o que isso tem a ver com arte visual?
Bem, quem acompanha a coluna Arte+ já teve oportunidade de ler os artigos em que foquei uma das obras mais polêmicas dos últimos anos que é “O Comediante”, do artista italiano Maurizio Cattelan.
Consiste simplesmente numa banana afixada na parede com fita adesiva. Uma instalação realizada em 2019 na feira de Arte de Miami. Naquela ocasião foram lançadas três unidades da série.
A primeira delas foi vendida por cento e vinte mil dólares e as demais por cento e cinquenta mil dólares cada. Além da obra ter sido uma das que “viralizou” nas redes sociais, um fato que também gerou polêmica, foi ter sido comida por outro artista, cujo ato foi justificando como uma performance: “artista com fome”.
Aqui inicia o comportamento induzido sobre as bananas cattelanas. Em três outras ocasiões, as bananas expostas em diferentes locais foram comidas.
O segundo ataque de fome ocorreu numa mostra no Leeum Museum of Art de Seul, em 2023, quando um estudante de Arte a deglutiu. O terceiro ocorreu, há alguns dias, numa mostra no Centro Pompidou na França. Entre estes ataques, a obra também foi comida por um dos felizes compradores.
O bilionário fundador da plataforma de criptomoedas Tron, adquiriu uma das versões da obra em leilão por seis milhões e duzentos mil dólares e a degustou numa coletiva de imprensa em Hong Kong em 2024.
Disse que era muito melhor que outras… ao mesmo tempo, reforçou a provocação artística instaurada por Cattelan que criou da obra.
Nos momentos em que as obras foram comidas em mostras, foram substituídas sem qualquer admoestação aos esfomeados. A instalação é replicável, esta é justamente a característica deste tipo de manifestação artística: podem ser replicadas pois o que se adquire não é uma banana, mas o direito de replicar a instalação.
Pode-se deduzir, portanto, que este comportamento também será replicado toda vez que a obra for mostrada: alguém movido pelo impulso imitativo, como de manada, irá atacá-la vorazmente.
Aos vencedores os morangos
E os morangos? Bem, aos vencedores os Morangos ou seria… as Batatas? Machado de Assis, criou, no romance Quincas Borba de 1891, a frase: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.” Mal sabia que muitas batatas, bananas, abacaxis e demais frutas, como o morango, estariam em debate mais de cem anos depois.
Quem está com as antenas ligadas nas trends ou tendências atuais já deve ter percebido que os Bebês Reborn foram engasgados pelos Morangos do Amor… então: aos vencedores os morangos.
Para dar uma ideia deste comportamento basta dizer que o Morango do Amor é uma versão “atualizada” da Maçã do Amor, um preparado que envolve a fruta em glaceado vermelho, típico de festas populares como as juninas.
Contudo, seguindo o melhor perfil do comportamento de manada, nos últimos dias um doce criado com morango natural, coberto com brigadeiro branco (acredite) e banhado em calda vermelha, se tornou a trend do momento superando os bebês fakes.
Segundo estimativas, mais de 500 mil unidades foram vendidas em junho, o que significou um aumento de mais de 2.000% pedidos no iFood o que elevou o preço do morango em mais de 70% em algumas regiões.
Ainda: outras frutas enciumadas já se mostram: uva, kiwi, pera e, quem sabe, o abacaxi? No Norte já se fala em Cupuaçu do Amor… talvez, na “latinamérica” a banana entre na dança, já pensou no potencial (nutritivo, claro) da Banana do Amor?
Se isso não é comportamento de manada me expliquem por favor, em todo caso peço desculpas por aproveitar a trend… afinal de contas, ninguém é de ferro.