
Há uma insistência em certas vozes, que atravessam séculos e continuam vibrando no presente. A língua portuguesa falada no Brasil é uma delas: tecido vivo, tramado por gestos, sonoridades e memórias africanas que se inscrevem silenciosamente no cotidiano.
É nesse contexto que o Museu Vale lança o catálogo da exposição Línguas africanas que fazem o Brasil, reforçando a dimensão de permanência e movimento que a mostra já instaurava. O evento acontece no Palácio Anchieta e reúne o curador, Tiganá Santana, e artistas capixabas que integram a itinerância: Rick Rodrigues, Castiel Vitorino Brasileiro, Natan Dias e Jaíne Muniz.
O catálogo, como afirma a diretora do Museu Vale, Claudia Afonso, funciona como uma extensão da exposição. Permite que o público volte às obras quando desejar, que reencontre os pensamentos disparados pela curadoria e perceba como as línguas africanas seguem operando em nossa maneira de dizer, sentir e habitar o mundo. Em um país que historicamente silenciou essas presenças, cada gesto de registro é também um gesto político.

A exposição, em cartaz no Palácio Anchieta até dezembro, investiga justamente essas presenças — as linhas subterrâneas que conectam o português brasileiro às línguas iorubá, eve-fon e ao vasto grupo banto. O Brasil recebeu cerca de 4,8 milhões de pessoas africanas entre os séculos XVI e XIX, e essa travessia forçada produziu marcas que sobrevivem: na pronúncia, no vocabulário, nos modos de narrar e de existir. Para além da língua, a mostra articula instalações sonoras, audiovisuais, símbolos Adinkra e elementos rituais como búzios, criando um percurso imersivo em que oralidade e escrita dialogam, ampliando a compreensão do que significa herança afrodiaspórica.
Essas influências não pertencem ao passado — elas estão em franca atualização e se apresentam na música, na arquitetura, nas festas populares, nos rituais religiosos que sustentam comunidades inteiras. A itinerância realizada pelo Museu Vale reforça esse atravessamento, ativando novas camadas de leitura quando encontra artistas que pensam e performam suas experiências negras em diálogo com o território.
A língua também contém rastros do que já foi. E, quando revisitamos essas memórias, escutamos não apenas o passado, mas aquilo que insistiu em permanecer, apesar de tudo, como força criadora.
Serviço:
Lançamento Catálogo da exposição “Línguas Africanas que fazem o Brasil
18 de Novembro, às 19h
Palácio Anchieta
Entrada gratuita e classificação livre