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Augusto dos Anjos terá mostra na Casa das Rosas

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São Paulo – Pela forma mórbida como de seus versos e pelo fascínio em descrever a morte de maneira minuciosa, Augusto dos Anjos muito provavelmente não se incomodaria com o título dado à exposição que trata de sua vida e obra na Casa das Rosas, em São Paulo. Esdrúxulo! foi o nome escolhido para a mostra que aproveita o centenário de morte do escritor paraibano para revisitar seus poemas e levar o público ao universo de um dos mais importantes nomes do período pré-modernista brasileiro.

“Há bastante tempo a crítica tem passado a considerá-lo um escritor que antecipa elementos da literatura pós-22. Apesar de ter vivido durante o período do parnasianismo e do simbolismo, marcados pela linguagem formal de sentido, a poesia de Augusto dos Anjos tem traços bastante realistas e cotidianos, coisa que não havia nos outros dois movimentos”, explica o curador da exposição, Júlio Mendonça.

Augusto dos Anjos viveu e produziu pouco. Durante seus trinta anos, passados entre 1884 e 1914, publicou somente Eu, expandido depois com outras poesias.

Dois anos após o lançamento do livro, bancado pelo irmão, Odilon, o poeta faleceu vítima de uma pneumonia. Deixou dois filhos pequenos e uma obra impactante, recebida pela crítica da época com elogios à qualidade e ressalvas ao fatalismo e ao cientificismo impregnados em seus versos.

Nem a trágica morte prematura de seu primeiro filho escapa ao pessimismo carregado de morbidez do autor. “Porção de minha plásmica substância / Em que lugar irás passar a infância/ Tragicamente anônimo, a feder?”, retratam os versos.

“A morte talvez seja o traço mais forte da obra de Augusto dos Anjos, principalmente no Brasil, mas não lhe é exclusivo. Foram justamente outras obras da literatura universal com essa temática que o influenciaram a adotá-la, juntamente com passagens de sua própria biografia. Ele também tinha interesse particular por outros campos do conhecimento, como a biologia”, diz Júlio.

A ciência aliada à poesia de Augusto dos Anjos só passou a ser vista com mais atenção partir dos anos 60, com vários críticos revisitando a obra do escritor e percebendo ali um de seus maiores trunfos. O que o crítico Anatol Rosenfeld, responsável pelo nome da mostra, chamou de “introdução de uma costela de prata” na linguagem, comparando a escrita do paraibano a um elemento completamente estranho na poesia nacional.

A mostra, que estreia nesta quarta-feira, 11, às 19h, se divide em torno das facetas de um autor que atrai leitores de todas as faixas etárias e níveis de escolaridade ao longo das décadas. “Acredito que ela interesse a muitos jovens urbanos que têm contato com os mesmos temas da poesia de Augusto e que estão presentes na cultura contemporânea”, diz Júlio.