Entretenimento e Cultura

Blubell faz show no Auditório Ibirapuera

Blubell faz show no Auditório Ibirapuera Blubell faz show no Auditório Ibirapuera Blubell faz show no Auditório Ibirapuera Blubell faz show no Auditório Ibirapuera

São Paulo – A frase que abre Diva É a Mãe diz muito sobre o quarto disco de Isabel Fontana Garcia, a Blubell: “Não gosto de carnaval/multidão, social/o meu lema oficial é ‘less is more, j’adore’”. O álbum mescla letras divertidas com momentos de introspecção. “É um trabalho mais bem-humorado que os primeiros, mas ainda bastante autobiográfico. Meu estilo de compor sempre traz muito da vida pessoal”, explica a cantora.

Sua carreira solo começou com Slow Motion Ballet, de 2006, disco que lembra pouco os seguintes – Eu Sou do Tempo Em Que A Gente Se Telefonava, de 2011; Blubell & Black Tie, de 2012; e Diva É A Mãe, lançado no fim do ano passado. O trabalho ficou mais ligado ao jazz e, no último disco, Blubell diz ter encontrado a “banda que finalmente entende” suas músicas e que “soube fazer os arranjos para valorizar as canções”, todas escritas por ela mesma. Formado por Daniel Grajew (piano), Hugo Hori (saxofone), Igor Pimenta (contrabaixo) e Carlinhos Mazzoni (bateria), o grupo a acompanha no show que ela realiza no domingo, 29, no Auditório Ibirapuera, com participações de Da Lua, Filipe Catto e Ná Ozzetti.

Diva é quase como um diário pessoal: há momentos de desabafo, em que se permite “amargurar” (Protesto); histórias de bar, como a experiência de sair com alguém que só fala de si (A Mulher Solteira e o Homem Pavão); e chistes espirituosos, como quando canta sobre um bandido que captura seu olhar e conclui: “Meu Deus, como fui me apaixonar por um telefone celular?” (Bandido).

Intercalados, surgem o sarcasmo de Regret (“Querido, sou grata sim/Por tudo que aprendi/Você tem a bondade de uma sucuri”) e a melancolia de Pra Não Sentir, música que fecha o álbum e dá o clima de fim de festa no cabaré, que remonta aos anos 1950 e 1960.

“No meu iPod, não tem quase nada dos anos 1970 para frente, então, vejo como natural essa sonoridade no disco”, diz a artista, que aponta suas influências no início do rock, do soul, e ainda no auge do jazz. Com um trabalho de gênero pouco popular no País, ela não vê tanto contraste entre a música que faz e a dos seus pares, da cena tida como a nova geração da MPB (Blubell lançou os últimos discos pela YB Music, mesma gravadora do paraense Felipe Cordeiro, do trio paulistano Passo Torto e do primeiro disco de Tulipa Ruiz, Efêmera). “Nossa época possibilita que a gente seja mais autêntico e, portanto, cada vez mais diferente um do outro. Não acho que o que faço, por ser jazz, destoe. São sonoridades múltiplas.”

Com vinhetas e pequenos cortes que lembram jingles de propagandas americanas, a presença das músicas antigas marca Diva É A Mãe. O disco passeia pelo cabaré, doo-wop e boogie-woogie, com ar ainda mais vintage que Eu Sou do Tempo Em Que A Gente Se Telefonava. O álbum de 2011 tem Música, hoje trilha da novela Geração Brasil, da Globo. O single é tema de um clipe financiado por crowdfunding que fez a versão paulistana do projeto I Charleston the World.

Trata-se de uma produção coletiva – no caso paulistano, coordenado por Blubell – em que pessoas enviam vídeos dançando o ritmo popular depois da Primeira Guerra na Carolina do Sul, nos EUA. Música foi adaptada para uma vertente do charleston mais rápida, o lindy hop (veja o clipe no portal), em cenas na Avenida Paulista, no Parque Ibirapuera, no centro da cidade, entre outros pontos.

Uma característica do trabalho de Blubell é a brincadeira com títulos. Nos dois últimos álbuns autorais, Eu Sou do Tempo… e Diva É a Mãe (Blubell & Black Tie traz covers), os nomes fazem uma afirmação marcante; em Música, confunde o interlocutor, com a temática e o título metalinguísticos.

A cantora diz que o nome Diva É a Mãe é uma “libertação” de si mesma, por permitir não se levar a sério. “Sempre me senti um pouco cobrada em relação a uma certa postura, o que pode até ser uma ilusão, mas agora assumi: sou mais palhaça do que diva”, brinca. Diva Uma Ova, que reforça o nome do disco, faz referências a Maysa (“Meu mundo não caiu”) e a Billie Holiday (“Meu cabelo não dá flor”), e decreta: “Aqui não há glamour/ Mas você pode me ver/Com fone de ouvido em pé num vagão de metrô/Espremendo espinha no espelho do elevador”. Fazem parte da sua alforria até cachorros de fãs, que participam do álbum com latidos, enviados por meio das redes sociais.

Ainda em Diva É a Mãe, a cantora de 36 anos se depara com os dilemas da exposição nas composições. “Estou começando a escrever sobre a vida dos outros, mas, por enquanto, quem me conhece sabe bem do que estou falando nas letras.” Segundo ela, é preciso balancear o quanto “se proteger” e o quanto se expor, até porque uma temática mais verdadeira “tem força maior com o público”. No palco, ela valoriza a energia das músicas, que se difere à do ambiente de estúdio. “É o lugar onde as músicas assentam e a performance fica diferente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.