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Brigitte Sy fala de 'Astrágalo', que adaptou do livro cult de Albertine Sarrazin

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São Paulo – Ex-mulher de Philippe Garrel, mãe de Louis Garrel. Brigitte Sy atuou em filmes do ex-marido e agora coloca o filho no próprio filme, que estreia nesta quinta, 10, na cidade. Astrágalo baseia-se no romance de Albertine Sarrazin. Nos anos 1950, ela virou uma autora cult por falar com franqueza, e de forma pessoalizada, de assuntos que a boa sociedade preferiria ignorar. Numa entrevista por telefone, de Paris, Brigitte conta que leu o livro no liceu, quando era garota. Mais recentemente, e depois de fazer uma série sobre a aids e um filme sobre cadeia, resolveu aprofundar o segundo tema. E pensou no romance de Albertine. Como o livro, o filme conta a história de uma mulher que fala abertamente de sua experiência com prostituição e drogas.

Condenada a sete anos, Albertine foge, mas ao saltar o muro do presídio quebra o osso do pé – o astrágalo. Mesmo assim, arrasta-se até a estrada, onde é socorrida pelo também criminoso Julien. E partem para uma vida de crimes. Astrágalo poderia ser um filme sombrio, mas Brigitte conta que o que a atraiu foi o fato de ser justamente o oposto. “O livro é luminoso, a experiência do casal é muito intensa. Malgré tout/Apesar de tudo, há o amor como recompensa. Achei irresistível.” Os papéis são interpretados por Leila Bekti e Reda Kateb. “Leila é argelina, do Magreb como Albertine, mas não foi por isso que a escolhi. Precisava de uma atriz que fosse bela e intensa, e Leila é. O Julien real era loiro, nórdico, bem diferente de Reda Kateb, mas fiz o personagem ético porque queria trabalhar com ele e também sabia que teria ótima química com Leila.”

Na época, a questão étnica não era tão relevante quanto hoje, quando a Europa vive um refluxo em relação aos imigrantes. “Estamos vivendo uma fase de muita radicalização. Ninguém está mais disposto a ouvir o outro, o que é sempre um problema.” A imprensa norte-americana encantou-se com Astrágalo. The Hollywood Reporter escreveu que se trata de “um verdadeiro conto à Bonnie & Clyde”, fazendo referência ao clássico de Arthur Penn lançado no Brasil como Uma Rajada de Balas. Brigitte Sy acha que a comparação, por mais lisonjeira que seja, não corresponde à realidade. “Entendo que a revista quer destacar um clima, mas Penn, em Bonnie & Clyde, fazia um cinema psicanalítico. Era para suprir a carência de sexo que Faye Dunaway e Warren Beatty (os protagonistas) caíam na excitação da vida criminosa. Não é o que ocorre no meu filme.”

Brigitte fez sensação na França ao anunciar que é soropositiva. “O mundo mudou, mas as pessoas ainda têm medo de perder o emprego, de ser discriminadas. É preciso que os que podem assumir o façam. Sofri muito em silêncio por causa disso.” Boa parte da imprensa francesa viu Astrágalo como uma homenagem da autora à nouvelle vague. “Ah, isso sim”, concorda Brigitte. “Albertine escreveu seu livro como reação a um mundo de regras fixas, e esse era o espírito da nouvelle vague, que estava surgindo. É um cinema da liberdade, do movimento. Isso me interessa.” O repórter brinca – tudo bem com essa história de liberdade, mas o que faz de toda a família, isso é, Phillipe, Louis e Brigitte, um trio tão ‘nova onda’? “Essa é fácil de responder. Philippe começou quando a nouvelle vague se extinguia, quase como uma reação a ela. Desordenado, com personagens desmotivados. Mas, de alguma forma, ao refletir sobre Maio de 68 (Amantes Constantes), ele se tornou um nouvelle vague tardio. O filme de Louis, Dois Amigos, está no espírito de (Jean-Luc) Godard e (François) Truffaut), mas tenho a impressão de que isso se deve mais à sua ligação com Christophe Honoré do que a mim ou Philippe. A nouvelle vague é uma questão de liberdade autoral, que vale retomar.” E Louis, no filme? “Não escrevi o papel para ele, mas gostaria que ele o fizesse. Louis entendeu e foi generoso com sua mãe.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.