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Christiane Torloni vive Maria Callas em 'Master Class'

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São Paulo – Em 1971, a soprano Maria Callas (1923-1977), a mais gloriosa presença vocal da ópera do século 20, vivia um momento delicado – a voz até então reverenciada no mundo todo já falhava e o marido, o milionário Aristóteles Onassis, a trocara por outro mito, Jacqueline Kennedy. Ferida no canto e no coração, Maria Callas buscou alívio no processo de recuperação e aceitou ministrar naquele ano uma série de aulas magna a 25 estudantes da Julliard School, em Nova York. Esse ensinamento hoje lendário, que foi acompanhado na época por artistas como o cineasta Franco Zeffirelli e o cantor Plácido Domingo, inspirou o dramaturgo Terrence McNally a escrever a peça Master Class, cuja nova montagem brasileira estreia na quinta-feira, 3, no Teatro das Artes.

O papel de Callas, já defendido em quase uma centena de países desde a primeira encenação do texto, em 1995, será agora defendido por Christiane Torloni – a primeira versão brasileira, de 1996, teve Marília Pêra à frente. Trata-se de um enorme desafio: diante de alunos que apresentam falhas no canto ou mesmo total desconhecimento das árias que estão interpretando, Callas revela-se uma mulher contraditória, orgulhosa, egoísta e, ao mesmo tempo, vulnerável e autopiedosa, fruto de uma alma danificada.

“Em cena, vemos uma profissão de fé de seu ofício”, acredita Torloni. “Callas transmite aos seus alunos os valores nos quais acreditava, totalmente dedicada à sua arte, considerada por ela como algo sagrado.”

De fato, amada pelos fãs, venerada pelos críticos, Callas, no entanto, era uma mulher frágil e morreu abandonada pela própria voz, que estragara em arriscadas aventuras. Mas ali, diante de iniciantes, a cantora busca a comunhão no entendimento de que a arte é sagrada. Em Master Class, o dramaturgo McNally, mais que explorar a natureza do canto dramático, busca desvendar o segredo do extraordinário sucesso de Maria Callas.

“Ela continua sendo a heroína trágica do século 20”, observa o diretor do espetáculo, José Possi Neto. “Um ícone maior que qualquer celebridade. E, mais espantoso, ela veio do mundo da música clássica, aparentemente um reduto fechado. E conseguiu isso graças ao poder de sua verdade.”

Na nova montagem, Possi decidiu inovar, a começar pelo figurino usado por Torloni – o terninho preto habitualmente usado em todas as versões cede espaço para um modelo também austero, mas moderno, assinado por Fabio Namatame. Também o cenário, criado por Renato Theobaldo, recria o clima das grandes casas de ópera do mundo por meio de estruturas criadas em tecido especialmente tratado para receber luz e projeções. “Não quis reproduzir a sala do Julliard, mas um lugar onde acontece o processo das sensações”, diz Possi. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.