*Matéria produzida por Davi Setim, estudante da Escola Americana de Vitória, com supervisão da editora Maeli Radis.
Existe um encantamento engraçado em caminhar pelo Campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e perceber, lado a lado, dois edifícios de personalidades distantes que, mais do que estruturas de concreto, carregam o peso simbólico da cultura universitária no Estado.
De um lado, o Teatro da Ufes, gritante. Até os transeuntes mais desatentos da Avenida Fernando Ferrari não podem escapar de vê-lo — seu letreiro enorme em vermelho o anuncia.
Do outro, um espaço mais introspectivo, mas não menos relevante: o Cine Metrópolis, guardião de uma história de mais de meio século e que carrega em suas origens uma cultura de participação popular inegável. Tudo começou com um movimento de estudantes que improvisavam sessões de filmes nas salas de aula da Universidade.
Para saber mais, entrevistamos o secretário de Cultura da Ufes, Rogério Borges, que nos contou um pouco dessa trajetória.
O Cine Metrópolis não nasceu hoje. Não tinha como ser diferente, num período de Ditadura Militar, esse lugar de debate do movimento cultural pedia para nascer.
O cineclube passou a contar com apoio institucional apenas em 1978, quando a Sub-Reitoria Comunitária ofereceu suporte e ajudou a estabelecer uma sede fixa para as sessões. Mas foi, em 1994, durante as comemorações dos 40 anos da Ufes, que houve a inauguração a sala de exibição atual.
“Hoje, o Cine Metrópolis recebe um planejamento dentro do orçamento da Secretaria de Cultura. Talvez, só a USP e a Universidade Federal Fluminense tenham os equipamentos que temos aqui. O sucateamento que o Cine Metrópolis passou tem a ver com o sucateamento que a cultura passou no Brasil, mas nós temos superado isso”, explicou o secretário.
Quanto à visibilidade, Borges reconheceu que o Teatro se destaca mais no imaginário dos capixabas, sobretudo por receber presencialmente artistas nacionais vinculados aos grandes meios de comunicação.
Ainda assim, defende que o Cine Metrópolis cumpre um papel distinto, ao manter-se fiel à proposta de não se submeter às exigências mercadológicas, abrindo espaço para filmes, debates e produções que dificilmente teriam lugar em circuitos comerciais.
É sedutor, reconhece, deixar de ser um cinema universitário — encher salas com grandes públicos, como em tempos passados. Mas essa ideia, para ele, é hoje quase mítica diante do impacto dos streamings na forma como se consome audiovisual.
O que não significa que não haja esforços sendo feitos para ampliar o alcance do Metrópolis. A gratuidade oferecida a todos os estudantes da universidade é um dos pilares dessa política de acesso.
Assim, o Cine Metrópolis segue existindo não à sombra do Teatro Universitário, mas em uma harmonia simbiótica. Ambos encarnando a dualidade que torna a cultura universitária tão viva: o espetáculo e a reflexão. Um sendo palco à luz dos holofotes; e o outro, tela que brilha no escuro.
Serviço
Cine Metrópolis
- Valor dos ingressos: R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia)
- Estudantes da Ufes têm entrada subsidiada mediante apresentação da carteira estudantil ou comprovante de matrícula e documento com foto.
- Venda de ingressos: na bilheteria e no site da Le Billet
- Endereço: Universidade Federal do Espírito Santo, Campus de Goiabeiras. Centro de Vivência. Av. Fernando Ferrari, 514