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Com Alsop, concertos em nome da igualdade

A escolha do repertório não se deu por acaso. "A Sinfonia nº 9 de Beethoven fala de unidade, de compreensão, de compaixão. Beethoven viveu sob enorme tortura pessoal

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Foto: Reprodução/Instagram

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) abre nesta quinta, 9, sua temporada 2017, com a Sinfonia nº 9 – Coral de Beethoven. O comando da apresentação é de Marin Alsop. Mas, antes, nesta quarta, 8, ela e a regente residente Valentina Peleggi fazem uma apresentação especial, para marcar o Dia Internacional da Mulher.

“Para nós, foi natural fazer algo especial para esta data. No mundo da música clássica, ainda é pouco usual a presença de mulheres em posições de liderança. Na Osesp, no entanto, além da minha atuação como diretora musical, há a Valentina, que agora assume o Coro da Osesp, que, por sinal, foi dirigido durante anos por Naomi Munakata, e também a maestrina e contralto Nathalie Stutzmann como artista associada. Por isso, acredito que temos a responsabilidade de ressaltar o fato de que ainda é preciso de um dia para nos lembrar a respeito do fato de que as mulheres, em todo o mundo, ainda não são tratadas com igualdade”, diz Alsop à reportagem.

A escolha do repertório não se deu por acaso. “A Sinfonia nº 9 de Beethoven fala de unidade, de compreensão, de compaixão. Beethoven viveu sob enorme tortura pessoal. Imagine um compositor que se descobre surdo. Isso deu a ele, acredito, uma sensação de empatia muito forte pelas pessoas injustiçadas, ressaltando o fato de que somos todos parecidos, todos humanos. É uma mensagem tremendamente importante.”

A Nona de Beethoven integra um ciclo que Alsop vai realizar com a Osesp ao longo do ano. Batizado de O Herói, ele traz obras como a Sinfonia nº 7 – Leningrado, de Shostakovich, e o Réquiem de Guerra, de Benjamin Britten. A ideia ela diz, é particularmente importante nos dias de hoje. “Eu comecei a pensar na temporada antes da situação política mudar tão dramaticamente e, de certa maneira, acho hoje que esse tipo de tema pode nos elevar acima da política e da situação atual do mundo, pois precisamos de heróis neste momento de nossa história. Heróis de verdade, não impostores.” E qual seria a diferença entre um e outro, ou melhor, o que definiria um verdadeiro herói? “É aquele que trabalha em nome das pessoas menos favorecidas, que dá oportunidades a quem não as tem, que defende a igualdade acima de tudo e não pensa apenas em dinheiro, em proveito próprio”, afirma Alsop. “Nesse sentido, mais uma vez é interessante a escolha de Beethoven. Quando ele escreveu sua Sinfonia nº 3, dedicou a obra a Napoleão. Até que se deu conta do quanto ele era um líder ególatra, motivado apenas por interesses pessoais. E rasgou a dedicatória, batizando a sinfonia de Eroica. Não é por acaso.”

Alsop vê com preocupação a recente onda de cortes na área cultural, que no Brasil atacou em especial a cena da música clássica, com o fim de conjuntos e a diminuição de orçamentos. Momento, diz, para relembrar a importância do gênero. “A arte é sempre uma ameaça – é a voz democrática por definição, um sinal de resistência. Nos piores momentos da humanidade, como o Holocausto, as pessoas seguiram fazendo arte. É um modo de expressão, um exercício de liberdade. Estamos seguindo na direção oposta à que deveríamos seguir. Cada vez mais, a música e a arte deveriam fazer parte da vida dos jovens.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.