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Com formato de ficção científica, Assassin's Creed não se compara aos livros

Com formato de ficção científica, Assassin’s Creed não se compara aos livros Com formato de ficção científica, Assassin’s Creed não se compara aos livros Com formato de ficção científica, Assassin’s Creed não se compara aos livros Com formato de ficção científica, Assassin’s Creed não se compara aos livros

São Paulo – Pode até ser que o filme não fosse bom, mas em O Mundo de Warcraft, o diretor Duncan Jones esforçou-se para criar, no cinema, a linguagem do game. Justin Kurzel não vai por esse caminho em Assassin’s Creed. Do game, ele pega o conceito da ficção científica, que concilia com uma aventura na Espanha da Inquisição, e do cruel Torquemada. Cal/Michael Fassbender viaja na máquina do tempo criada pela cientista Marion Cotillard. Ela é uma sonhadora. Quer erradicar a violência no mundo e o pai, Jeremy Irons, se aproveita disso.

No invento de Marion – a máquina chamada Animus -, Cal vai em busca de um ancestral, Aguilar. O que ele não sabe é que Aguilar foi o último homem a colocar as mãos na lendária Maçã do Éden. Marion acredita que, com o artefato, poderá criar um admirável mundo novo de paz. Cal é assassino condenado à morte.

Vive atormentado porque seu pai matou a mãe em nome do Credo dos Assassinos, ou assim crê. Odeia o pai, a sociedade secreta. A viagem no tempo, em que seu DNA bate com o do ancestral, vai lhe fazer descobrir o significado do Credo. E resolver o enigma da própria identidade.

Mas isso é metade da equação – Marion, a dra. Sophia Rikkin, trabalha para uma empresa bilionária a serviço dos Templários e, ao longo do tempo, as duas sociedades têm lutado pela Maçã. Os Assassinos defendem o livre arbítrio. Os Templários não creem na humanidade e querem dominá-la pela força. Esse é o contexto e a narrativa salta da Espanha do século 15 à de 2016, passando pela Califórnia de 1986. Kurzel coloca na boca da templária Charlotte Rampling sua explicação para a ‘direitização’ do mundo. O homem abriu mão da liberdade. Só quer consumir, ter segurança, ser guiado. A saga – no cinema – está recém começando. Termina em aberto, à espera de que o sucesso viabilize o investimento no 2, no 3…

Há o game. E existem os livros. Ao longo de oito volumes, de Renegados a Bandeira Negra, Oliver Bowden cria relatos fascinantes que atravessam o tempo, da Florença renascentista ao Caribe dos flibusteiros, para contar o embate do Credo com os Templários. Bowden já foi definido como um importante historiador escondido por trás de pseudônimo. As novas edições resolvem o mistério e dão o crédito a Anton Gill. Os livros são cheios de detalhes e bem escritos, por quem conhece História. Renegados poderia ser um dos grandes filmes de aventuras do italiano Riccardo Freda nos anos 1960, mas Kurzel e o ator e produtor Fassbender, que já estiveram juntos em Macbeth, trabalham para outra geração, a do game. Um novo volume – The Last Descendants, de Matthew J. Kirby – introduz o Animus, mas ainda não é o filme. Cal credita aos Assassinos a morte da mãe, mas descobre a verdade e liberta-se. Dra. Sophia também credita a morte da mãe dela ao Credo. Permanece nas sombras – entregue ao lado escuro (da Força?).

Assassin’s Creed é um filme grande, não um grande filme. Eventualmente, diverte. Os livros são muito melhores.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.