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Com mulheres na cama, 'Dólares de Areia' deixou de ser gay

Com mulheres na cama, ‘Dólares de Areia’ deixou de ser gay Com mulheres na cama, ‘Dólares de Areia’ deixou de ser gay Com mulheres na cama, ‘Dólares de Areia’ deixou de ser gay Com mulheres na cama, ‘Dólares de Areia’ deixou de ser gay

São Paulo – Laura Amelia Guzmán conheceu seu hoje marido Israel Cárdenas quando ambos cursaram a escola de cinema de San Antonio de los Cabos, em Cuba. “Somos una pareja, si”. Somos um casal, ela conta numa entrevista por telefone de Santo Domingo. Para fazer a chamada internacional, o repórter disca 001, o prefixo dos EUA. “Infelizmente, fazemos parte do quintal da América”, ela diz. “Mas a situação mudou um pouco nos últimos anos. Houve um tempo em que, na República Dominicana, só víamos filmes de Hollywood. Hoje, temos uma lei de cinema que possibilita a realização de filmes. Há sempre algum filme dominicano em cartaz. Os que fazem mais sucesso são comédias com elenco de TV, mas faz parte. O importante é que estamos colocando nossa cara e nossa voz nas telas.”

Laura e o marido – Cárdenas – dirigem Dólares de Areia. O filme estreou na quinta, 23. No ano passado, encerrou a Mostra, em presença da atriz Geraldine Chaplin, que faz a protagonista, uma mulher de meia-idade que se envolve com uma garota dominicana. A relação é mais do que afetiva – sexual, também. Por meio de Geraldine, Yanet Mojica, a atriz que faz o papel, espera realizar o sonho de ir para a França. Ela tem um amante que a estrangeira pensa ser seu irmão. Quem abusa de quem? Os jovens? A mulher madura? “Para nós (os diretores), era muito importante que as cenas de sexo fossem delicadas e que o filme não emitisse julgamentos morais sobre nenhum desses personagens. As pessoas fazem o que precisam ou o que acreditam. Quem somos nós (Israel e eu) para dizer que estão certas ou erradas?”, pergunta-se a diretora.

Dólares de Areia tem sido apresentado com sucesso em festivais internacionais. No ano passado, Geraldine Chaplin esteve duas vezes no Brasil. Primeiro, em Brasília, para receber a homenagem do Festival Internacional de Cinema do Distrito Federal. Dupla homenagem – para seu pai, o grande Chaplin, criador do imortal Carlitos, e para ela, lembrando sua carreira de atriz. De Brasília, seguiu para Toronto, onde Dólares de Areia foi exibido no festival. No final de outubro, voltou para o encerramento da Mostra, que prestou nova homenagem a Carlitos – em 2014, completaram-se 100 anos, um século, da criação do vagabundo.

Na entrevista, Laura Guzmán contou que o marido e ela basearam-se num livro de Jean-Noël Pancrazi. No original, o personagem é homem, e se envolve com garoto. “Começamos a trabalhar no roteiro, mas encontramos forte resistência junto aos financiadores locais. A República Dominicana é um país muito conservador, e o filme ganhou o rótulo de ‘gay’. Ninguém queria se comprometer com o projeto. Nesse meio tempo, conhecemos Geraldine, que foi encantadora. Levantamos a possibilidade de ela fazer o papel. Geraldine não se intimidou com as cenas de sexo nem com a diferença de idade. E os investidores reagiram com entusiasmo. Afinal, ela é um nome internacional e, com duas mulheres nas cenas de sexo, o filme deixava de ser gay. Ficava excitante. É assim que as coisas funcionam em meu país.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.