
Uma amiga próxima adora dar grandes festas de Halloween todos os anos, completas, com fantasias. Mas me vestir a rigor, por mais criativa que seja a roupa, não é o meu forte. Eu sou obrigada a ir? E existe um meio-termo?
Costumo pensar que existem dois tipos de pessoas quando se trata de Halloween: os Klums e os não-Klums.
Os Klums são, claro, aqueles que seguem o exemplo de Heidi Klum, a ex-modelo e apresentadora de reality show cujas festas e fantasias de 31 de Outubro são épicas. Klum é conhecida por passar um ano inteiro se preparando para seu traje de gala, convocar vários artistas de próteses e maquiagem, e já apareceu (sem ordem específica) como um pavão, um verme gigante e, no ano passado, como E.T.
Ela vê o ato de se fantasiar como uma maneira alegre de se soltar, satisfazer a imaginação e praticar um inofensivo jogo de interpretação. E ela não está sozinha.
Ultimamente, o excesso de fantasia tem se tornado um esporte competitivo entre celebridades. Veja, por exemplo, os looks de Halloween cada vez mais elaborados e múltiplos das Kardashians, Beyoncé e Cardi B.
Os não-Klums, no entanto, não conseguem imaginar nada pior do que se vestir como um verme. Para eles, esse tipo de traje é inútil e potencialmente humilhante, um uso inadequado de esforço, tempo e dinheiro. (Espera-se que o Halloween movimente um recorde de US$ 13,1 bilhões neste ano, de acordo com a Federação Nacional de Varejo, incluindo US$ 4,3 bilhões gastos em fantasias.) Isso pode levar a todo tipo de psicanálise inútil – por que você está vestindo isso agora? – e assombrar a pessoa por anos.
Existe, inclusive, um tópico inteiro no TikTok intitulado “Alguém mais não vai se fantasiar para o Halloween?”.
Ambas as posições são legítimas. No entanto, se você for convidado(a) para uma festa a fantasia e decidir ir, é realmente uma questão de respeito ao anfitrião participar de alguma forma do dress code — e não estou falando apenas de colocar orelhas de diabinho ou um nariz de cachorrinho.
Estou falando de inventar uma história sobre quem você deveria ser. Afinal, as pessoas vão presumir que você está fantasiado(a) de alguma coisa, quer você esteja ou não. Portanto, é melhor você controlar a narrativa.
(Uma colega que odeia o Halloween descobriu isso da maneira mais difícil. Ela foi a uma festa a fantasia sem fantasia, vestindo seu velho e habitual trench coat, e descobriu que todos pensavam que ela estava vestida de detetive.)
Look possível
A boa notícia é que existem muitas maneiras de fazer um esforço sem se comprometer com um look completo, ou se transformar em uma vítima do consumismo.
Meu marido, por exemplo, uma vez foi a uma festa a fantasia com suas roupas normais de trabalho e, quando as pessoas perguntavam quem ele era, ele respondia “J.D. Salinger”. Como Salinger era um recluso notório que se recusava a ser fotografado, ninguém sabia como ele era — então ele podia se parecer com qualquer pessoa. (Ir vestido como Martin Margiela, o recluso designer belga que se recusa a aparecer em câmeras, também funcionaria.)
Outro amigo prendeu um monte de serpentinas de papel crepom a um guarda-chuva e o carregou como um guarda-sol. Quando aberto, fazia com que ele parecesse uma água-viva. (É verdade que isso não funcionará em ambientes internos para os supersticiosos, mas funciona para um evento ao ar livre.)
Houve também um conhecido que simplesmente comprou um saco muito grande de açúcar e o carregou a noite toda, dizendo a todos que era um sugar daddy. (Isso pode gerar alguma reação negativa.)
Por anos, usei o mesmo vestido preto longo do meu armário e simplesmente adicionei diferentes adereços: uma cabeça decepada (para ser Judite com a cabeça de Holofernes), muitas teias de aranha (Miss Havisham) e mãos ensanguentadas (Lady Macbeth).
O ponto é: a roupa pode ser, eventualmente, o assunto de uma conversa; mas no Halloween, ela sempre será. É melhor você aproveitar o momento.
Este artigo apareceu originalmente no The New York Times.