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Compañía Antonio Gades faz dupla apresentação em SP

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São Paulo – Prender-se aos sentimentos espontâneos, por mais que não os consiga definir. Este é o conselho de Stella Arauzo, herdeira criativa e diretora da Compañía Antonio Gades, a quem assistir a Fuego, espetáculo de dança criado em 1989 pelo bailarino e coreógrafo que dá nome ao grupo, expressão máxima do flamenco, que ganha nova montagem em homenagem aos seus dez anos de morte.

“O importante é prestar atenção nos próprios sentimentos”, aconselha Stella em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone. “Existem expressões artísticas que não tenho um entendimento profundo, como a pintura, mas há quadros que me comovem. E o mesmo acontece com quem assiste a um espetáculo de flamenco criado por Gades. Não dá para sair do teatro indiferente. Algo lhe toca e mexe com sua verdade, despertando sentimentos desconhecidos”, enfatiza.

A nova montagem do espetáculo é recente e foi apresentada pela primeira vez em julho, no majestoso Teatro de la Zarzuela, em Sevilha, na Espanha. Em sua passagem pelo Brasil, os ingressos foram bastante disputados e esgotaram dias antes das apresentações. Em São Paulo, por exemplo, no dia 25 já não havia mais lugares disponíveis.

Mantenedora do legado artístico de Antonio Gades (1932- 2004), Stella reviveu a coreografia e buscou se manter fiel não somente à partitura de movimentos, mas a todo o projeto, compondo a performance com todos os elementos que se aproximam do número apresentado há 25 anos. “Nós temos a sorte e a responsabilidade de conservar os espetáculos de Gades o mais fielmente possível ao que ele nos deixou. Então, nosso trabalho é manter inalterada toda sua criação”, explica.

“Luzes, cenografia, vestuário, passos, marcações… A única diferença são os artistas, que imprimem suas almas e emoções na dança. Mas tentamos deixar o mais parecido com o que foi.”

Fuego foi uma das últimas composições de Gades, mesclando o flamenco com música clássica e elementos do folclore cigano andaluz. “Hoje em dia, podemos classificar a coreografia como clássica, que se supõe não apresentar complicações nos movimentos. E a nova geração de bailarinos tem dificuldades nas primeiras execuções, pois vêm de uma formação mais moderna do estilo. Aqui, precisamos manter o rigor de Gades e o trabalho é duro para se atingir a perfeição de nosso mestre”, explica Stella.

A narrativa é de fácil assimilação: uma história de amor, que se propõe impossível a princípio. Após perder o marido, morto em uma briga, a cigana Candela supera os dias de tristeza e volta a encontrar sentido em sua vida ao conhecer Carmelo. No entanto, um espectro, de poder sobrenatural, impede que o amor se consume e se conclua. “Fuego é inspirado no balé El Amor Brujo (1915), de Manuel de Falla. E na versão original, essa força do mal é uma personagem, Lucía, que separa o casal por duas vezes e tenta levá-los ao que seria um inframundo”, conta a diretora.

Na obra de Gades, a tal força destrói todo um povoado, que luta para afastar o mal e permitir que o amor vença no final. “É um show que nos transporta ao interior da Espanha, passando pelos caminhos roceiros, cavalos, fazendas, recuperando a raiz de nossa cultura.”

Os 20 anos de trabalho conjunto fizeram de Stella o braço direito de Antonio Gades e sua indispensável Carmen, personagem-título de uma de suas obras mais famosas, concebida em 1983. A diretora, no entanto, vê sua relação por outro prisma. “Foi como um pai para mim. Comecei a trabalhar com ele aos 17 anos e o acompanhei até sua despedida. E além de todo o rigor, seu maior legado é sua humanidade e humildade”, acrescenta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.