Se está caro, padeça na pobreza!

As redes sociais foram tomadas por uma avalanche de comentários após o último discurso do presidente Lula, no qual sugeriu: “se está caro, não compre”. A declaração propunha que a população substituísse produtos mais caros por alternativas mais baratas, como forma de exercer pressão sobre a indústria alimentícia. Entretanto, a realidade vivida pelo brasileiro médio demonstra que não há opções verdadeiramente baratas, mas sim um encarecimento generalizado dos produtos. Dessa forma, em vez de escolher entre a abundância de produtos acessíveis, a população se vê forçada a lidar com uma redução drástica no seu poder de escolha.

Durante uma entrevista para algumas rádios da Bahia, o presidente Lula incentivou a população a utilizar estratégias de mercado para manipular os preços, sugerindo que, ao boicotar produtos caros, os consumidores forçariam os comerciantes a reduzirem seus valores. Na teoria, a ideia segue o princípio clássico da oferta e demanda: quando a procura por um produto diminui, o preço tende a cair. No entanto, na prática, a inflação dos alimentos tem ocorrido de forma disseminada e significativa, especialmente nos itens básicos da alimentação do brasileiro, tornando o custo de vida cada vez mais pesado.

De acordo com a revista IstoÉ Dinheiro, a inflação dos alimentos em 2024 atingiu 7,69%, superando a inflação oficial do país, que fechou em 4,83%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Dentre os itens que mais encareceram, destacam-se as carnes, com um aumento de 20,8%, e o café moído, com expressivos 39,6%. Esses números evidenciam que o problema não se trata apenas de um ou outro produto pontualmente mais caro, mas de uma tendência generalizada de perda do poder de compra da população.

Crise Inflacionária e o Governo Collor

A crise inflacionária dos alimentos não é um fenômeno inédito no Brasil. Durante o governo Collor, medidas econômicas equivocadas levaram à escassez de produtos e ao encarecimento de bens essenciais. O confisco da poupança e a instabilidade econômica aprofundaram a crise e resultaram em consequências drásticas para a população, com desabastecimento, especulação e perda de credibilidade do governo. O paralelo com o cenário atual é evidente: promessas de alívio econômico foram feitas, mas a realidade tem sido um aumento significativo do custo de vida.

O governo Lula e sua equipe econômica erram ao tratar o problema da inflação de maneira superficial, sem medidas concretas para conter o avanço dos preços e melhorar o poder de compra dos brasileiros. Promessas como a “picanha e cervejinha” para o trabalhador tornaram-se um símbolo frustrado da falta de eficiência das políticas econômicas. Enquanto o governo prioriza discursos e orientações genéricas, os preços continuam subindo e a população sente no bolso a dureza de um mercado cada vez mais inacessível.

Alternativas e Perspectivas para a Economia Nacional

Para conter a inflação e devolver ao povo o direito à escolha, o governo deveria priorizar medidas efetivas, como a redução da carga tributária sobre itens essenciais, o incentivo à produção agropecuária e industrial para aumentar a oferta e diminuir os custos, além da implementação de políticas que fomentem a concorrência no setor alimentício. Outra alternativa seria a criação de incentivos diretos para a produção e distribuição de alimentos essenciais, reduzindo custos para produtores e consumidores, além do fortalecimento de políticas que ampliem o acesso a itens básicos sem a dependência de subsídios ineficientes.Por fim, a realidade se impõe: enquanto a promessa era a volta da picanha ao prato dos mais pobres, o que se observa é que até o café se tornou um luxo. A distância entre o discurso e a vida real só aumenta, e a escassez de opções não só empobrece a mesa do brasileiro, como também escancara a fragilidade da economia nacional. No ritmo atual, o futuro reserva menos escolhas e mais dificuldades para aqueles que já lutam para sobreviver. O verdadeiro problema não é a decisão entre um produto caro e outro barato, mas sim a constatação de que, para muitos, não há mais alternativas além de padecer na pobreza.

Gabriela Moraes Oliveira

Colunista

Associada do Instituto Líderes do Amanhã

Associada do Instituto Líderes do Amanhã