O meme viral que comparou o comportamento de pessoas durante o show da Lady Gaga, em Copacabana, a partir da luz de suas sacadas, “quem tem luz amarela dança, quem tem luz branca observa parado”, rendeu risadas nas redes, mas também levanta uma discussão real e cada vez mais relevante: a iluminação interfere no nosso humor, nas nossas emoções e até na nossa disposição para interações sociais?
De acordo com Edson Gomes, especialista em iluminação há mais de 20 anos, a resposta é sim, e a ciência comprova. “A temperatura de cor da luz influencia diretamente a forma como nos sentimos em um ambiente. Luzes mais quentes, como as de tom amarelado, remetem ao conforto, acolhimento e relaxamento. Já as frias, como o branco intenso, são associadas à atenção, produtividade e vigilância, mas também podem gerar certo distanciamento emocional em ambientes de convivência”, explica Edson, que é CEO da Labluz, empresa paulistana referência no setor para arquitetos e designers de todo o Brasil.
Em resumo, o meme de Lady Gaga traduziu de forma rápida e simples a percepção que a gente tem e nem sempre consegue explicar sobre os efeitos da luz em nosso cérebro.
Cor é emoção
O fenômeno expõe um ponto fundamental para quem projeta interiores: a escolha da iluminação não é apenas técnica, possui um caráter bastante emocional. A arquiteta capixaba Bruna Rodi acredita que, mais do que apenas iluminar, a luz pode despertar os sentidos. “Ela molda a percepção do espaço, dá ritmo e evoca emoções. Na arquitetura, a iluminação pode ir além da função técnica, pode ser uma experiência sensorial, uma linguagem silenciosa que nos conduz pelo espaço”, avalia.
Um exemplo de utilização da percepção sensorial em ambiente de decoração no trabalho de Bruna é o projeto em conjunto com a artista plástica Ana Paula Castro, desenvolvido pela Inspira Conceito e Design, em Pedra Azul, Domingos Martins, no empreendimento Vive Le Vin.
Segundo as idealizadoras, a luz foi tratada como matéria-prima e se incorpora como parte da arquitetura e da arte propostas no design dos ambientes. Ao longo do dia, as esculturas de Ana Paula projetam um jogo de luz e sombra que se movem, dançando no espaço. “A iluminação pode não estar ali apenas para iluminar. Ela pode ter o papel de envolver, de despertar sensações”, explica Bruna Rody. “É uma luz que se transforma a todo momento, e também muda de acordo com o dia”.
Dicas para fazer em casa
Bruna Rody dá três dicas para quem quer utilizar o recurso técnico da iluminação para ir além e criar atmosferas interessantes dentro de casa. A primeira é produzir luz em camadas. “Combine diferentes fontes, diretas, indiretas, decorativas, para criar profundidade e movimento nos ambientes”, orienta.
A segunda dica é usar diferentes tonalidades. “Aposte na temperatura da luz como linguagem: tons quentes acolhem e dão sensação de bem estar”, destaca. A última dica é usar a observar a luminosidade que vem de fora. “Brinque com a luz natural: cortinas leves, esculturas ou elementos vazados podem projetar sombras e criar pequenos espetáculos visuais”.
Parece simples para quem conhece as nuances da decoração de ambientes, mas, com um pouco de sensibilidade, é possível dar um toque de requinte dentro de casa utilizando as facetas da emoção provocadas pela luz.