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Elegante decadência dos vampiros de Jim Jarmusch

Elegante decadência dos vampiros de Jim Jarmusch Elegante decadência dos vampiros de Jim Jarmusch Elegante decadência dos vampiros de Jim Jarmusch Elegante decadência dos vampiros de Jim Jarmusch

São Paulo – Existem críticos capazes de jurar que Jim Jarmusch (re)inventou o cinema independente dos EUA com seus filmes Stranger Than Paradise e Daunbailó, no começo dos anos 1980. Interessante, ele nunca deixou de ser, com a narrativa episódica de Mystery Train e as diferentes versões de Coffee and Cigarettes.

Em Memphis ou algum lugar da Califórnia, bastava a Jarmusch colocar seus personagens ao redor de uma mesa, tomando café e fumando, para fazer reflexões originais sobre o próprio cinema. O problema é que Jarmusch começou a repercutir cada vez menos. O que fazer? Desistir ou reinventar-se?

Ele optou pela segunda via. Começou a fazer releitura de gêneros. Western (Dead Men), policial (Ghost Dog – The Way of the Samurai), melodrama (Broken Flowers). Jarmusch continuou a frequentar o circuito dos festivais, a receber elogios – mitigados – dos críticos. No ano passado, em Cannes, ele admitiu que fez Only Lovers Left Alive porque estava chegando ao fundo do poço e os produtores lhe acenaram com um filme potencialmente de mercado. Pegando carona em Bella e Edward, Jarmusch fez o seu Crepúsculo. Amantes Eternos – título brasileiro – é o tributo do diretor ao vampirismo.

O filme está saindo em DVD para rental. Para venda, só em janeiro. Vampiros possuem longa tradição no cinema, desde o terror dos anos 1930 aos Dráculas (no plural) dos 50 e aos jovens de Crepúsculo, já nos anos 2000. Só que os vampiros de Jarmusch não se assemelham, a nenhum desses. Os vampiros do diretor parecem perdidos no tempo. Vivem numa Tânger romântica, vestem roupas estilizadas, são roqueiros e consomem sangue… esterilizado. Jarmusch conta a história do casal primevo. Não por acaso, chamam-se Adão e Eva, como na Bíblia.

Adão é um roqueiro underground que vive recluso, e isso só aumenta o culto dos fãs. Ele reencontra sua Eva. Ainda há fogo sob as cinzas, mas o casal é cool. Ambos têm perfeita consciência de quem e do que são. Entra um terceiro vértice para formar o triângulo e é aqui que o equilíbrio se rompe. A irmã de Eva vive segundo regras próprias, e selvagens. Quando a civilidade é rompida, é todo um mundo que ameaça se desintegrar.

Amantes Eternos é um típico Jim Jarmusch porque, em, momento algum, o diretor se preocupa em se ajustar às normas do cinema de gênero. O filme tem violência, algumas peripécias, mas nada impactante. Algumas ideias são inesperadas – como nunca ninguém pensou nisso antes? As personagens chupam picolés de sangue. E justamente o sangue, que as une, lança irmã contra irmã, as desune. Por mais civilizados que sejam, por mais blasés, vampiros não escapam a seu destino. Mais que amantes eternos, são eternos malditos. Com ótimos atores como Tilda Swinton e Tom Hiddleton, Jarmusch fez um filme elegante na sua decadência. Merece revisão.