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Em 'A Trama', Cantet expõe as tensões da sociedade francesa

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São Paulo – A Mostra chega ao fim e, depois da cerimônia de premiação, marcada para 20h desta quarta, 1º, no Cinearte 1, apresenta um filme muito especial – A Trama, do francês Laurent Cantet. O longa mostra a capacidade do cineasta em reunir um grupo de pessoas e, dele, fazer um microcosmo da sociedade francesa, com suas contradições espalhando-se pelas bordas.

No caso, trata-se de um grupo de jovens, reunido em torno de uma escritora famosa para um workshop de literatura. A ideia é escrever um thriller em conjunto, sob orientação da professora. O grupo é representativo da multiplicidade étnica e cultural da França contemporânea. Como costuma acontecer nesse tipo de proposta, a trama ficcional mantém contatos estreitos com a realidade. Engloba elementos da vida real e, deformando-os, expressa com mais clareza tensões acomodadas e muitas vezes reprimidas. Sobressai, em particular, o relacionamento da escritora famosa, Olivia (Marina Foïs) e o mais rebelde dos alunos, Antoine. Uma França fustigada pelas tentações da extrema-direita emerge dessa ficção que se aproxima bastante da realidade. Faz também lembrar o Brasil contemporâneo.

O último dia de Mostra reserva ainda uma série imperdível de atrações. Além de A Trama, o cinéfilo não deve perder de vista o iraniano Sem Data, Sem Assinatura, de Vahid Jalilvand. É uma história de dilema ético como só eles sabem fazer. Um médico, o doutor Nariman, acaba envolvido num acidente com um motociclista e sua família.

Uma criança fica ferida. Nada muito grave. Ele presta assistência, quer levá-la a um hospital, mas o pai resolve ir embora com o filho. No dia seguinte, a criança aparece morta, vítima de botulismo, segundo autópsia realizada. Nariman não se conforma. O menino morreu por envenenamento ou o acidente teria sido a causa? A história tem desdobramentos imprevisíveis e nos deixa sempre em suspenso. Diante de nós, surge o Irã em toda sua complexidade e não com a simplificação, como é visto pela mídia ocidental.

Outra atração é A Hollywood de Hitler, de Rüdiger Suchsland. O foco é a indústria cinematográfica montada para promover a grandeza do III Reich. Entre 1933 e 1945, a Alemanha produziu cerca de mil filmes, muitos de ótima qualidade técnica. Formou seu star system e não se limitou a obras de propaganda sob o comando de Goebbels. Essa filmografia torna-se um filão de extraordinário valor para compreender o inconsciente coletivo de um país que conduziu Hitler ao poder e provocou uma guerra fatal.

DICAS DESTA QUARTA

Em que Tempo Vivemos?

Dá ainda para ver o filme que abriu a Mostra. Ai Weiwei mostra em imagens contundentes o drama dos refugiados num mundo marcado pela injustiça social.

Napalm

Claude Lanzmann, autor do clássico Shoah, retorna à Coreia do Norte, onde esteve muitos anos atrás, e recorda um caso de amor platônico.

Ascensão e Queda de uma Pequena Produtora de Cinema

Um raro Godard, com um dos ícones da nouvelle vague, o ator Jean-Pierre Léaud.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.