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Quem viu Lilia Cabral brilhar como a Silvana de A Força do Querer, talvez nem imagine as dificuldades que a atriz teve que enfrentar para se consolidar na carreira. Em entrevista à Folha de S. Paulo, a artista contou que o pai chegou a proibi-la de seguir a profissão e com isso, aos 26 anos, ela mudou de São Paulo, onde morava com a família, para tentar a vida profissional no Rio de Janeiro.
– Eu era muito reprimida pelo meu pai. Havia um impedimento de eu ser o que eu gostaria de ser. Eu lembro que eu assistia às novelas e ficava me imaginando o tempo inteiro no lugar da Dina Sfat, da Glória Menezes. Eu pensava assim: Isso eu sei fazer! Eu ia pro meu quarto, escrevia muito, e depois começava a interpretar aquilo que eu escrevia. E sempre tinha muita dor, sabe? Aquela sensibilidade à flor da pele. Eu fui cada vez mais acreditando que eu não queria ser nada, eu queria ser atriz., lembrou Lilia.
Ela ainda chegou a visitar os pais após a mudança, mas conta que não foi a bem recebida.
– Quando eu voltei, meu pai falou: Olha, você quer morar no Rio, quer fazer sua vida, quer ser atriz. Então, eu não quero mais que você entre na minha casa. E eu nunca mais entrei, revelou.
Para ver a mãe, ela tinha que encontrá-la na casa de uma tia.
– Mas minha mãe ficou doente (com câncer). Aí eu voltei. Mesmo assim, o encontro foi horrível, porque meu pai me culpou pela doença dela, explicou.
A atriz então resolveu não discutir e aceitou a culpa. A mãe morreria cerca de seis meses depois da descoberta da doença.
– Sobrou meu pai, só que depois daquela mágoa, daquela forma repentina de me anular da vida deles, fica muito difícil a gente ter alguma coisa, assim, de coração. Mesmo assim, eu jamais abandonei. Trazia meu pai pra cá, levava para as peças. Aí ele começou a ter orgulho, bastante.
Lilia diz que entendeu o pai e o perdoou, embora seja difícil limpar o coração totalmente.
Relação com a filha
Com quase 40 anos de carreira e mais de 20 novelas no currículo, a atriz no momento grava longa adaptado da peça Maria de Caritó, que protagonizou por quase cinco anos. Com essa trajetória, Lilia conta que não titubeou ao apoiar a decisão da filha Giulia, de 20 anos e idade, em seguir a mesma carreira da mãe.
– Por muito tempo, ela não falava. Ela vivia tudo aquilo comigo desde pequena, e ficava tolhida de dizer que queria ser atriz, porque todo mundo falava assim: Ah, quer ser atriz porque a mãe é. Quando ela conseguiu, eu falei: Você quer! Você tem que falar! Quando alguém pergunta: Ah, você vai seguir a profissão da sua mãe?, você fala assim: Vou, porque eu gosto. Porque eu quero!, pontuou.