Entretenimento e Cultura

Em 'Festa', mulher questiona sua vida ao completar 30 anos

Em ‘Festa’, mulher questiona sua vida ao completar 30 anos Em ‘Festa’, mulher questiona sua vida ao completar 30 anos Em ‘Festa’, mulher questiona sua vida ao completar 30 anos Em ‘Festa’, mulher questiona sua vida ao completar 30 anos

São Paulo – Há cerca de dois anos, a atriz Natalia Gonsales se envolveu em um projeto teatral. Na ocasião, tinha 28 anos e trabalhou com gente muito mais jovem do que ela. De forma inconsciente, a experiência mexeu com sua cabeça. “Quando se está perto dos 30, é o momento em que pensamos sobre nossas conquistas e nos preocupamos com o envelhecimento”, afirma a atriz, lembrando, com simpatia, que até o diretor Antunes Filho a chamava de velha nos tempos em que foi aluna do Centro de Pesquisa Teatral.

Gestada naquela época em que Natalia – agora balzaquiana – percebia a chegada dos 30, “Festa” ganha vida neste sábado, 18, com estreia no CCBB, em São Paulo.

A montagem nasceu como apenas uma cena na cabeça de Natalia. No palco, ela viveria uma mulher que esperava os convidados em uma festa de aniversário, mas ninguém apareceria. No fim, a personagem abriria uma geladeira e, de lá, sairia um homem. “Tenho uma relação muito forte com o livro Mulheres que Correm com os Lobos (de Clarissa Pinkola Estés, editora Rocco), que fala sobre a mulher contemporânea”, diz. “Queria falar sobre essa mulher que tem um lado mais masculino de precisar sair, ir para a rua, sobreviver.”

Chamada às pressas para cobrir um furo de agenda no CCBB, Natalia teve apenas seis semanas para preparar a montagem e, por isso, teve de fazer algumas mudanças.

Depois de pronto, o espetáculo continua com a mesma premissa, mas ganhou outras nuances com a direção de Lana Sultani. “A personagem tem uma relação com o tempo, não quer que ele passe”, diz Natalia, afirmando que “Festa” também fala do desconforto da solidão e de como é necessário saber lidar com ela.

Dessa forma, o figurino tem tons escuros, assim como o cenário que, com poucos objetos, transmite um ambiente de depressão. No enredo, a protagonista prepara a festa e espera, sem sucesso, os convidados, sempre em um clima de inquietação e agonia.

A atriz tem a carreira marcada pelos anos em que trabalhou na companhia Pia Fraus, da qual saiu recentemente. De lá, ela tira a técnica do teatro físico, linguagem que se destaca no espetáculo. Com isso, os movimentos executados por Natalia no palco ficam mais marcados e coreografados, aproximando o espetáculo de uma performance. Com pouco texto, são as ações cotidianas – como acender uma vela ou estourar um balão – que ganham força dramatúrgica.

Para a atriz, o que mais a atrai no teatro físico é a abertura que a técnica oferece ao público. “O fato de a peça ser muito imagética faz com que a plateia faça suas próprias leituras sobre o enredo, sobre as cenas”, diz, valorizando também a palavra. “Na Pia Fraus, aprendi a importância de como dizer o texto. Por isso, busco trabalhar com a palavra e a imagem. No teatro, tudo é expressão.”

A diretora Lana concorda. “Fizemos tudo pensando em colocar o mínimo necessário para criar uma expressão, sem ser impositivo.” Para ela, o teatro tem uma tendência maniqueísta: procura-se sempre julgar, identificar o bem e o mal, o moral e o imoral. “Queremos que cada espectador construa sua própria visão do espetáculo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

FESTA

CCBB. Rua Álvares Penteado, 112, metrô Sé, tel. (011) 3113-3651. 6ª, sáb. e 2ª, 20 h; dom., 19 h. R$ 10. Até 2/5. Estreia sábado.