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Em Gramado, longa 'Presos' tem elenco notável

Em Gramado, longa ‘Presos’ tem elenco notável Em Gramado, longa ‘Presos’ tem elenco notável Em Gramado, longa ‘Presos’ tem elenco notável Em Gramado, longa ‘Presos’ tem elenco notável

Gramado – E, na sexta noite do 43º Festival de Gramado, surgiu o melhor curta da competição. Pode até ser que ainda surjam outros – foram projetados mais filmes nessa quinta, 13, e outros mais serão nessa sexta-feira, 14. Mas, por enquanto, Haram, do egípcio de ascendência árabe e italiana (e radicado na Bahia) Max Gaggino, leva o Kikito, pelo menos para o repórter. O filme é sobre uma mulher do Oriente Médio que vive com o marido em Salvador. Os olho são a única coisa que se vê dela, já que o corpo é todo encerrado dentro da burca. A atriz que faz o papel tem um olhar muito expressivo – claro. Envolve-se com a garota do apartamento em frente.

Comunicam-se através das janelas, e não é isso o cinema, uma janela aberta para o entendimento do mundo, e do outro? A música, ao mesmo tempo que estabelece as diferenças culturais, sela a aproximação. Já os longas da quarta-feira à noite não foram tão bons, por mais instigantes que tenham sido. O melhor foi o representante da Costa Rica, Presos, de Esteban Ramírez, na mostra latina.

O diretor baseou-se num documentário feito por seu pai, décadas atrás (e do qual ele usa imagens). Uma garota de classe média recusa a vida que a mãe lhe aponta e se envolve com um presidiário. No final, tem de tomar uma decisão importante, mas o diretor deixa a cena em aberto. Surgiram interpretações conflitantes sobre o significado daquelas imagens. Como duas (ou mais) pessoas podem ver filmes diferentes a partir das mesmas imagens?

Interessante questão. O melhor de Presos é o elenco. O filme costa-riquenho se inscreve na tendência que tem sido dominante no festival – a dos atores/autores. Anna Muylaert, do concorrente brasileiro Que Horas Ela Volta?, diz que escolhe atores que tenham texto próprio, para que eles a ajudem a construir seu filme. Essa tem sido a tendência de alguns filmes brasileiros e de todos os concorrentes latinos.

Alguns momentos com Leynar Gómez (o preso) e Natália Arias (a namorada) são muito intensos. Ele tem essa cena em que cobra alguma coisa de outro preso. O cara só o olha. Rola uma lágrima. Ela ocupa sozinho o longo plano final – quase dois minutos de choro e movimento, sem uma palavra. Como os atores conseguem esses milagres? Técnica ou emoção? Técnica e emoção, quem sabe?

De Brasília, veio outro concorrente brasileiro – O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum, adaptado do livro de Luiz Fernando Emediato. A construção de Brasília e o golpe militar vistos pelos olhos de um garoto e centrados na relação entre pai e filho. Se o final aberto do filme da Costa Rica gerou inquietude, a narração off (e situações e diálogos reiterativos) do de Brasília também geraram desconforto.

É inferior ao anterior de Ristum – essa mania que jornalistas têm de ficar comparando -, mas é tecnicamente bem-feito e Zelito Viana, homenageado ontem à noite com o Troféu Eduardo Abelim, assinalou na sua coletiva a facilidade que a geração de imagens em digital fornece a filmes que precisam trabalhar com reconstituição de época. “Um filme como esse (o de Ristum) teria sido muito mais difícil em celuloide.”

Zelito produziu obras emblemáticas de Glauber Rocha e Eduardo Coutinho – Terra em Transe, O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, Cabra Marcado para Morrer. Mas tão ou mais importante que o encontro com essas figuras míticas, foi, nos próprios filmes – é autor de documentários e ficções -, seu encontro com índios. “Por viver na natureza, eles têm uma visão diferenciada do mundo e nos levam a reavaliar nossas vivências e valores.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.