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Em livro, Henry Jaglom reúne as longas conversas que teve com Orson Welles

Em livro, Henry Jaglom reúne as longas conversas que teve com Orson Welles Em livro, Henry Jaglom reúne as longas conversas que teve com Orson Welles Em livro, Henry Jaglom reúne as longas conversas que teve com Orson Welles Em livro, Henry Jaglom reúne as longas conversas que teve com Orson Welles

São Paulo – Entre 1983 e 85, Orson Welles encontrou-se regularmente com Henry Jaglom, que ficara seu amigo, para almoçar – e conversar sobre… tudo. Esses diálogos foram editados por Peter Biskind e resultaram num livro visceral – My Lunches With Orson (Editora Picador). No que virou o último diálogo entre ambos, Welles conta uma história sobre como Verdi, o compositor italiano, não conseguia mais produzir nada de valioso no fim da vida. Um dia, contaram-lhe que Wagner havia morrido e ele se lançou numa atividade febril, produzindo verdadeiras obras-primas. Na época, o próprio Welles não conseguia fazer mais nada. Jaglom pergunta – quem seria seu Wagner? Quem teria de morrer para ele voltar a produzir? Welles diz que não ia responder a uma pergunta dessas.

Foi seu último encontro. Ele morreu cinco dias depois, em 10 de outubro de 1985. Completam-se neste ano o centenário do nascimento de Orson Welles – hoje, 6, justamente – e os 30 anos de sua morte. Welles tinha 70 anos, mas parecia ter muito mais. Tinha projetos, mas não produtores. Desdenhava dos ‘amigos’. Dizia que havia prejudicado tanta gente que agora o mundo lhe retribuía. Mas mantinha-se lúcido, e ferino. A leitura de Meus Almoços com Orson – Diálogos Entre Orson Welles e Henry Jaglom lança nova luz sobre a personalidade do diretor de Cidadão Kane. Welles não tinha papas na língua. Seus comentários são mordazes, e ele tem sempre uma fofoca para contar.

Confessa que nunca se interessou muito pela mídia de cinema. Gostava de fazer filmes, isso sim. Jaglom passa o livro tentando conter os arroubos de Orson. No primeiro diálogo, diz que não vai apertar a mão de Jaglom, nem de ninguém, com medo de morrer de aids. Jaglom acusa-o de preconceito. Ele diz que não seria humano, se não fosse preconceituoso. Tem sempre um comentário para fazer – sobre FBI, Churchill, Roosevelt, Chaplin, Marlene Dietrich, Laurence Olivier, David Selznick, Rita Hayworth.

Ele esclarece pontos essenciais – dá sua versão do episódio de It’s All True e da montagem de Soberba. Repete que Greg Tolland era o maior diretor de fotografia do mundo, mas foi ele, Welles, que iluminou Cidadão Kane. Garante que seu roteiro era melhor que o de Herman Mankiewicz e desmente que tenha sido o diretor nos bastidores de O Terceiro Homem. Na verdade, tem muito respeito por Carol Reed.

Maledicente com quase todo mundo – despreza Hitchcock; o que diria se soubesse que Vertigo/Um Corpo Que Cai iria desbancar Cidadão Kane como melhor filme de todos os tempos? -, só é carinhoso com a ex-mulher, Rita. Conta como certa vez, ele já estava ligado a Paola Mori e Rita o chamou, em Hollywood. Ele atravessou o Atlântico – estava na Itália – e ela o esperava de négligé, na porta do quarto. Ele disse não. Ela lhe pediu que pelo menos lhe pegasse a mão, para ela dormir. Você pode imaginar a cena? A mulher mais desejada do mundo? As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.