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Escritores inspiram personagens de 'Barbaridade', em cartaz no Rio

Escritores inspiram personagens de ‘Barbaridade’, em cartaz no Rio Escritores inspiram personagens de ‘Barbaridade’, em cartaz no Rio Escritores inspiram personagens de ‘Barbaridade’, em cartaz no Rio Escritores inspiram personagens de ‘Barbaridade’, em cartaz no Rio

Rio – “Chegar à velhice é muito melhor do que não chegar.” O aforismo gaiato é de Zuenir Ventura, mas poderia ser de Luis Fernando Verissimo ou de Ziraldo. Os três amigos, de 83, 82 e 78 anos, encaram a passagem do tempo com a mesma serenidade, e sem cair nas armadilhas do saudosismo. Juntos, escreveram o ponto de partida de BarbarIdade, comédia musical que estreou nessa quinta, 19, no Teatro Oi Casa Grande, no Rio.

Acabaram inspirando personagens do texto de Rodrigo Nogueira, o autor (também dos musicais sobre o Rock in Rio e sobre Chacrinha, que precederam BarbarIdade). No espetáculo, metalinguístico, três autores, vividos por Osmar Prado, Edwin Luisi e Marcos Oliveira, tentam escrever um espetáculo sobre a velhice, mas sofrem um bloqueio criativo.

“A Aniela (Jordan, produtora) me convidou para escrever a peça e eu chamei os dois para esse menage à trois”, brinca Zuenir. “Nós três temos uma visão otimista do tema, nosso lema é o ‘carpe diem’, que significa não olhar para trás nem fazer planos para o futuro. Nunca fomos de falar ‘no meu tempo…’. O problema não é a velhice, e sim a falta de saúde. O Ziraldo tem sete stents (no coração), o Verissimo toma 21 comprimidos por dia, eu tomo seis. E nunca fui tão feliz. Os maiores inimigos da velhice são as pedras portuguesas e as escadas.”

A premissa é de que a tal “bárbara idade”, por ser livre de pudores, pode, sim, ter sua graça. E outra: que a proximidade maior da morte não deve ser uma ameaça à felicidade – Verissimo goza: “A morte é a última coisa que eu quero para mim”.

O texto foge dos clichês e das figuras caricatas do “velhinho fofinho” e do rabugento. Susana Vieira, aos 72 anos símbolo da maturidade com vitalidade, é a protagonista: uma produtora que odeia velhos e que, vítima de si mesma, termina por assumir o próprio desconforto com a idade. “Não me identifico em nada. Ela é muito preocupada com a idade, que é uma coisa com a qual eu não me preocupo, porque eu estou muito bem. Estou com a idade que estou e estou no palco protagonizando BarbarIdade”, diz a atriz.

Em cinco décadas de carreira, é seu primeiro musical. Edwin Luisi também nunca havia experimentado o gênero. Osmar Prado já participou de espetáculos como Quem Casa Quer Casa e A Pequena Loja dos Horrores, nos anos 1980, e nunca deixou de exercitar a voz. “Sou um ator que canta, me sinto voando, fisicamente e psicologicamente. Tenho 67 anos e estou usando toda a minha potencialidade. A velhice é um tabu, a sociedade é perversa e tenta empurrar o idoso para o caixão. Mas ando de moto todo dia, faço pilates.”

Rodrigo Nogueira buscou dosar a comédia e o tom reflexivo, o riso e a ternura, a momentos de melancolia. A nostalgia é embalada por músicas do repertório de Frank Sinatra, e é quebrada por Anitta. “O velho não vive essa velhice que a gente vê”, aponta o autor, que resgatou da memória afetiva os timbres dos três autores. “Li os três a vida toda, o Ziraldo na infância, o Verissimo na adolescência e o Zuenir, adulto. Por ser mais novo (40 anos), tentei olhar através dos olhos deles. Entendi que se no teatro você pode ser tudo o que você quiser, na velhice também pode.”

São 18 em cena. O diretor é Alonso Barros. Os ensaios duraram dois meses; antes, a equipe teve conversas com a antropóloga Mirian Goldenberg, autora de estudos sobre o envelhecimento no Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.