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Espetáculo 'Belle' se baseia no longa 'A Bela da Tarde'

Espetáculo ‘Belle’ se baseia no longa ‘A Bela da Tarde’ Espetáculo ‘Belle’ se baseia no longa ‘A Bela da Tarde’ Espetáculo ‘Belle’ se baseia no longa ‘A Bela da Tarde’ Espetáculo ‘Belle’ se baseia no longa ‘A Bela da Tarde’

São Paulo – Há um momento de A Bela da Tarde em que Jean Sorel, o cirurgião marido de Sévérine (Catherine Deneuve), olha com interesse injustificado para uma cadeira de rodas – será uma premonição do que lhe acontecerá mais tarde? A cena é uma das invenções que Luis Buñuel e o roteirista Jean-Claude Carrière acrescentaram na adaptação do livro de Joseph Kessel. O cinéfilo que assiste hoje ao filme sabe que se trata de um clássico. Na época (1967), o desconcerto – o escândalo – foi grande.

Aventureiro, jornalista e romancista, Kessel nasceu na Argentina, na região de Entre Rios, mas foi na França, e escrevendo em francês, que adquiriu projeção. Tornou-se um dos expoentes da chamada ‘escola de psicologia das letras francesas’ nos anos 1920 e 30. Seu livro psicologiza a experiência de Sévérine, a burguesa insatisfeita que frequenta o bordel de Madame Anaïs, virando a Belle de Jour. Tudo o que Buñuel quis evitar foram as explicações psicológicas para o ‘caso’ de Severine.

Nada se explica – a caixinha de música do cliente chinês, o tinteiro que o médico necessita – e as cenas do passado também não estão ali para explicar o trauma de Sévérine menina. O que importa é o relato em bloco, e que mistura passado, presente e futuro, realidade e imaginação para compor aquilo que um crítico (Sérgio Augusto) definiu como um apólogo sobre a tendência à perversão da vida burguesa.

No limite, é um filme sobre o cinema – como outro, contemporâneo de Buñuel, Persona, de Ingmar Bergman, lançado no Brasil como Quando Duas Mulheres Pecam. Em definitivo, Belle de Jour esculpiu o mito de Deneuve como loira fria. Na complexa trama, ela se revolta contra o cliente (Pierre Clementi) que exacerba suas fantasias masoquistas, o que aponta para uma superação do trauma – mesmo que Buñuel não estivesse interessado na psicologia. O detalhe curioso é que Philippe Hériat adaptou o texto para teatro em 1936, mas dezesseis diretores se recusaram a montar a peça, tomando ao pé da letra o happy end irônico e acusando o autor de maniqueísmo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.