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Espetáculo 'Chuva Constante' questiona ética no meio policial

Espetáculo ‘Chuva Constante’ questiona ética no meio policial Espetáculo ‘Chuva Constante’ questiona ética no meio policial Espetáculo ‘Chuva Constante’ questiona ética no meio policial Espetáculo ‘Chuva Constante’ questiona ética no meio policial

São Paulo – Com o estrondo das manifestações de junho de 2013 e com a facilidade de fazer denúncias com vídeos, fotos e relatos em redes sociais, as atitudes tomadas por policiais ganharam espaço em debates. E Chuva Constante vem para engrossar o caldo das discussões. Após estrear em outubro e cumprir temporada no Rio, o espetáculo é apresentado por dez semanas em São Paulo a partir desta sexta-feira, 13, no Teatro Vivo.

Assinado por Keith Huff – também autor das séries de televisão House of Cards e Mad Men – o texto (A Steady Rain, no original) mostra um polêmico suspense policial. No enredo, Malvino Salvador interpreta Denny, um homem aparentemente bem-sucedido que leva uma vida estável, mantendo uma boa relação com sua mulher e seus filhos. Policial e aspirante a delegado, ele tem Joey (interpretado por Augusto Zacchi) como colega de trabalho e grande amigo de infância. Apesar de estar no mesmo posto e ter a mesma ambição profissional de Denny, Joey não leva uma vida tão regular quanto a do parceiro. Em uma tentativa de salvá-lo da solidão e do alcoolismo, Denny o convida para morar com sua família.

A história vira quando os dois saem para atender a uma ocorrência e acabam divergindo sobre a forma de resolver o caso. Enquanto Joey é mais prudente e segue à risca as regras da corporação, Denny tem um perfil turrão e age sob um pensamento mais prático, deixando as normas em segundo plano. O desfecho do impasse acaba mudando a vida e as relações – pessoais e profissionais – de ambos.

“É uma história que leva o público a realmente sair da sua zona de conforto”, diz Salvador. “Dá margem a discussões sobre amizade, romance, lealdade, família e amigos.” O ator conta que a divergência de opiniões não fica apenas entre Denny e Joey: segundo ele, ao fim de uma apresentação, um casal de amigos se dividiu, cada um defendendo o ponto de vista de um personagem.

Salvador já tinha protagonizado uma peça de temática semelhante. Em 2010, atuou em Mente Mentira, do norte-americano, Sam Shepard. A montagem também misturava drama policial e questões de família. Foi a produtora Cinthya Graber, com quem o ator já trabalhara antes, que o convidou para o projeto. Salvador acabou investindo na peça, entrando, também, como produtor associado.

Apesar de ser carregado de ação, violência e conflitos, o texto é quase que inteiramente escrito em discurso indireto – boa parte é narrada pelos atores, como se eles tivessem rememorando os fatos. Em apenas alguns momentos, principalmente nos mais tensos, a dupla volta no tempo para reviver, de fato, os acontecimentos.

Essa característica do texto empolgou o encenador Paulo de Moraes. Conhecido por seu trabalho à frente da Armazém Companhia de Teatro, Moraes também dirigiu Mente Mentira, e agora repete a parceria com Malvino Salvador. “Dirigir este estilo de texto foi o mais divertido”, afirma. “Ao mesmo tempo em que não se tem uma ação constante, é preciso fazer com que a ação se concretize na cabeça de quem está assistindo ao espetáculo.”

Salvador conta que, após ler o texto, logo pensou em Moraes para assumir a direção. “A peça tem potência dramática, mas também tem humor e momentos de poesia”, destaca, afirmando que o diretor soube transitar bem por essas características, evitando que o drama do espetáculo ficasse carregado demais.

Chuva Constante já foi apresentada na Broadway – com Daniel Craig e Hugh Jackman – e também ganhou montagem na argentina. Segundo Salvador, em Nova York a peça praticamente não tinha cenário e, na versão portenha, esbanjava recursos. Para diferenciar o espetáculo, Moraes optou pelo meio-termo. No palco, há apenas duas poltronas que mudam de posição de acordo com a necessidade das cenas. Nas laterais, diversos canhões de luz dão tons quentes ao espetáculo e formam um clima de inquérito – é como se os personagens estivessem em uma investigação, cada um dando seu testemunho sobre a história.

Gravados previamente, vídeos complementam a encenação. Curtos, eles mostram os atores em preto e branco, sempre embalados pela ‘chuva constante’. “Senti necessidade do reforço de alguns elementos visuais”, diz Moraes. “Os vídeos situam determinados elementos da trama, já que a peça é, basicamente, feita de palavras.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.