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Espetáculo Momix traduz as magias da química

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São Paulo – Uma das definições da palavra “alquimia” a coloca como a arte da Idade Média que buscava pela transformação de substâncias em ouro. A ideia era encontrar uma maneira de elevar o status de um material ordinário. E é sobre a transformação que trata o coreógrafo americano Moses Pendleton no mais recente espetáculo da Momix, companhia que fundou e comanda desde 1981. Após estrear em fevereiro de 2013 na Itália e passar por diversos países, Alchemia tem, a partir desta terça-feira, 16, quatro apresentações em São Paulo, no Teatro Alfa. Depois disso, ocupa o Teatro Municipal do Rio de Janeiro durante cinco dias.

A última aparição do grupo no Brasil ocorreu em 2011, quando os bailarinos dançaram Botanica. Com tom orgânico e de fantasia, o elenco exibiu um retrato das quatro estações do ano. A intenção, agora, é mostrar os movimentos e as relações dos quatro elementos naturais: a água, a terra, o fogo e o ar. “Sempre me interessei pelos elementos e pelo espírito dos elementos”, diz Pendleton em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone. “É a ideia de que itens discordantes giram em uma velocidade que muda suas identidades. O poder transformador do ato de misturar.”

O cotidiano de Pendleton também influenciou na escolha do tema de Alchemia. Ele conta que tem como hábitos o cultivo de girassóis, que o leva a um contato mais íntimo com a terra, e a prática de natação durante uma hora por dia, que, obviamente, aprimora sua relação com a água. Até com o fogo ele tem contato, quando usa sua lareira à lenha.

Segundo o coreógrafo, o espetáculo não segue uma dramaturgia linear e não tem a intenção de contar a história da alquimia. A obra é fiel à lógica da consolidada linguagem do Momix: combina luz, música, figurino e movimento para criar um conjunto de imagens com um toque de ilusionismo. O resultado é uma performance que se aproxima mais da esfera dos efeitos visuais, da mágica, do que da tradicional dança coreografada.

Para Pendleton, o tema do trabalho tem ligação direta com a filosofia do próprio grupo. “Minhas pesquisas para as obras do Momix sempre se debruçam sobre o mundo natural, conectando os elementos. É uma companhia muito alquímica neste sentido.

Nós nos apropriamos desse tipo de metáfora em nossas coreografias.”

Em 80 minutos, dez bailarinos apresentam uma série de cenas nas quais interpretam magos e aprendizes. Os quadros exploram, é claro, os elementos e suas reações, enquanto mesclam referências da Idade Média às simbologias oriental, cristã e tribal.

Em uma das cenas, que remete ao ar, pequenos focos de luz sugerem a silhueta de uma bailarina. Içada, ela desce aos poucos para interagir com outras personagens. Uma mudança de luz revela os figurinos: longas saias brancas armadas que, ao esconderem o movimento dos pés, dão a impressão que elas flutuam de um lado a outro do palco. Em determinado momento, as roupas se desdobram, ganham outros formatos, levando à cena um conceito de transformação.

Em outra parte da coreografia, agora dedicada ao fogo, é também o figurino que dá o tom. Saias e vestidos de um tecido leve e vermelho amplificam os já intensos movimentos dos bailarinos. Em dois trios, eles executam passos que lembram chamas. O calor do número contrasta com o fundo, composto por cores frias. “Queremos ver o fogo no bailarino. O fogo, a água, a terra. Assim como em Botanica se via, por exemplo, a flor. Transformar o humano no elemento”, reflete Pendleton.

Um número denso aborda a terra, com trilha que mescla sons eletrônicos a vozes humanas. O elenco dança com grandes bastões: às vezes giram em volta deles, às vezes os deslizam pelo próprio corpo, ou os carregam nos ombros como se fossem fardos. Os movimentos dão sempre a impressão da constante presença da gravidade: uma força sempre os puxa para baixo, mantendo-os em contato com o solo.

De uma maneira geral, as cenas são abertas a interpretações variadas. “Às vezes, você nem sabe para o que você está olhando, mas mergulha naquilo, nos mistérios da natureza”, acrescenta o diretor. Para ele, a arte da química permite uma imersão onírica. “É uma superfície da realidade que nos faz conectar com o subconsciente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.