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Exposição reúne trabalhos de Axl Leskoschek no Brasil

Exposição reúne trabalhos de Axl Leskoschek no Brasil Exposição reúne trabalhos de Axl Leskoschek no Brasil Exposição reúne trabalhos de Axl Leskoschek no Brasil Exposição reúne trabalhos de Axl Leskoschek no Brasil

São Paulo – Pintor, gravador e professor, o austríaco Axl Leskoschek (1889-1976) viveu no Brasil entre 1940 e 1948. Na exposição dedicada a ele agora na Dan Galeria, a aquarela Igreja em Brodowski remete à cidade paulista do amigo e artista Candido Portinari. Mais ainda, um grande conjunto de xilogravuras refere-se à ampla produção de, “mais de 200”, ilustrações que “Lesko-Lesko”, como foi apelidado na José Olympio Editora, realizou para a edição da obra completa de Dostoievski, naquela década, para os leitores brasileiros. Mas a mostra, em cartaz até 9 de abril, reúne outras preciosidades relacionadas a Leskoschek e sua estada no país que ele e sua mulher, Marusja, escolheram como refúgio do nazismo.

Quando se fala do austríaco, é inevitável não associá-lo, também, ao fato de ter sido mestre, no Rio, de Ivan Serpa, Fayga Ostrower, Renina Katz e Edith Behring, por exemplo, importantes criadores. Entretanto, a exposição é um mergulho em obras que o professor José Neistein, adido cultural do Brasil nos EUA, resgatou, em 1973, das mapotecas do próprio Leskoschek – “já enfermo e acamado” – em sua casa em Viena. “Numa das conversas que com ele tive naquela ocasião, Axl me disse, com misto de nostalgia e tristeza, que considerava um erro ter saído do Brasil”, conta o curador da mostra no texto publicado no catálogo.

Sendo assim, o marchand Peter Cohn, proprietário da Dan Galeria, destaca a exibição de uma raridade, a série Ulisses, Odisseia, representada quase que em sua integralidade por meio de 18 xilogravuras em preto e branco (originalmente, são 20). “Segundo o Neistein, essas obras têm uma natureza autobiográfica”, afirma Cohn.

O galerista explica que os trabalhos de Ulisses, criados entre 1938 e 1959, estão intimamente relacionados ao sentimento do artista sobre a saída da Áustria. “Seu ciclo de xilogravuras inspirado na Odisseia, de Homero, é autobiográfico na medida em que ele se identifica com o herói grego que, depois de tantos anos de exílio, volta para casa e não é reconhecido por ninguém, salvo seu cão”, escreve José Neistein.

Outra forte presença na exposição é a série Caim e Abel, formada por 11 linóleos coloridos. “Todas as gravuras de Axl Leskoschek abordam a condição humana, paixões, loucuras, desvios”, comenta Peter Cohn. “Ele é frequentemente um realista, em cuja obra coexistem elementos expressionistas, realistas, abstratos e surrealistas, que revelam preocupações de ordem social e política”, denota, por outro lado, o adido cultural.

Homenagem

A mostra Os Anos de Brasil de Axl Leskoschek é a mesma que José Neistein, então diretor do Brazilian-American Cultural Institute em Washington, preparou em 1973 para homenagear o artista austríaco. Na época, ainda vivo, o artista participou do processo de seleção das obras e a exposição foi apresentada tanto nos EUA quanto na Galeria do Grupo B, no Rio, e na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.

Além das já citadas séries Ulisses, Odisseia e Caim e Abel, é importante chamar a atenção também para as ilustrações que Leskoschek criou para o Romanceiro Brasileiro, de Ulrich Becher. “O ciclo traduz principalmente a identificação do artista com o modo de ser brasileiro e transmite o fascínio que a fauna, a flora, a luminosidade e o ritmo das coisas deve ter exercido sobre ele, num diálogo que teve oito anos de duração física e o resto da vida em densidade emocional”, define Neistein.

Criações para obras do escritor russo Dostoievski – como Os Irmãos Karamazov (com tradução de Rachel de Queiroz) e O Adolescente (traduzido por Lêdo Ivo) – são referências para a história literária no Brasil, mas a exposição traz ainda outros trabalhos feitos para livros, como as gravuras para Dois Dedos, de Graciliano Ramos. Merece destaque também o interesse pessoal do gravador por Os Lusíadas, de Camões, representado por meio de três trabalhos únicos (um deles, a gravação a buril das duas primeiras estrofes do poema do autor português).

“O talho de Leskoschek tem uma incisão funda e delicada”, opina Peter Cohn, completando que o interesse comercial pela mostra do austríaco tem sido de colecionadores especializados no gênero. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.