Entretenimento e Cultura

Exposição sobre alimentos acontece na Oca

Exposição sobre alimentos acontece na Oca Exposição sobre alimentos acontece na Oca Exposição sobre alimentos acontece na Oca Exposição sobre alimentos acontece na Oca

São Paulo – Cerca de 30 quilos de cravo, açafrão, pimenta e cominho foram comprados às pressas em São Paulo para preencher as formas de meia e tule da obra Antes que Eu Te Engula Carrocellflower, de Ernesto Neto. Instalada agora no subsolo da Oca, no Parque do Ibirapuera, a peça criada em 2007 pelo artista carioca é um dos destaques de Alimentário – Arte e Construção do Patrimônio Alimentar Brasileiro, exposição que foi inaugurada nesse domingo, 25, e para o público paulistano depois de apresentada no ano passado no Museu de Arte Moderna do Rio.

“É um trabalho que remete à descoberta do Brasil pelas especiarias”, diz Jacopo Crivelli Visconti, curador da mostra ao lado de Felipe Ribenboim e de Rodrigo Villela, autores do projeto. A escultura molenga de Ernesto Neto (enriquecida pelas cores e cheiros dos condimentos) está, assim, abrigada em frente de uma reprodução da carta de Pero Vaz de Caminha na qual o escrivão relata – equivocamente, contam os organizadores -, em 1.500, sobre o inhame e o palmito. “A origem de Alimentário foi pesquisar como os alimentos carregam conceitos, histórias”, afirma Ribenboim.

Ao longo da exposição, com 140 obras, objetos e documentos, abrem-se diversas possibilidades de leituras sobre a relação entre arte, comida, história, “brasilidade” e gastronomia – criações do chef Alex Atala, por exemplo, estão representadas. Sem ser didática, mas repleta de textos e citações, Alimentário começa com um “prelúdio” mais literal ao exibir criações contemporâneas como Ruína e Charque, Porto (2001), de Adriana Varejão, uma peça escultórica na qual a pintora representa de maneira kitsch o fragmento de uma parede de azulejos quebrada de onde saem vísceras e pedaços de carne; ou a fotografia do trabalho em que Regina Silveira registrou, em 1976, um biscoito no formato da palavra “Arte” sobre um prato branco.

Entretanto, como define Jacopo Crivelli, “aos poucos, o percurso vai ficando ambíguo”. O diálogo entre as fotografias de 2008 da dupla Maurício Dias & Walter Riedweg e fac-símiles do livro Hans Staden: Suas Viagens e Captiveiro Entre os Selvagens do Brasil, do século 16, por exemplo, relaciona o funk carioca e o ritual canibalístico. Outra passagem interessante é a exibição do quadro acadêmico Natureza-Morta (1891), de Estevão Roberto da Silva, com uma bancada de frutas naturais atrás da tela numa remissão fiel à original iniciativa do pintor na época. “Ele fazia isso para que o espectador pudesse sentir o cheiro do que estava retratado na obra”, explica o curador.

Uma riqueza ainda de leituras sobre o tema proposto pela exposição, que terá outras itinerâncias, é oferecida através de núcleos temáticos – sobre raízes indígenas, miscigenação e ciclos econômicos do café, do ouro e do cacau, por exemplo -, que traçam paralelos entre obras contemporâneas, moderna e históricas de nomes como Vicente do Rego Monteiro, Brecheret, Vik Muniz, Débora Bolsoni, Paulo Nazareth e Marc Ferrez. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.