Entretenimento e Cultura

'Família todo mundo tem, então todos me entenderão', diz Bong Joon Ho

‘Família todo mundo tem, então todos me entenderão’, diz Bong Joon Ho ‘Família todo mundo tem, então todos me entenderão’, diz Bong Joon Ho ‘Família todo mundo tem, então todos me entenderão’, diz Bong Joon Ho ‘Família todo mundo tem, então todos me entenderão’, diz Bong Joon Ho

Queridinho de Cannes, que revelou seu talento para o mundo em 2006, na Quinzena dos Realizadores, Bong Joon Ho (ou Bong Joon-ho, na grafia americana) tornou-se, aos 49 anos, o único coreano a ter uma Palma de Ouro no currículo, ciente de que seu país só passou a ser reconhecido por seu rol de autores nos anos 2000 para cá. Há muitas formas de se narrar na Coreia do Sul, seja ela mais rizomática (como é o caso de Hong Sangsoo), mais filosófica (Lee Chang-dong, de Em Chamas) ou mais brutalista (como faz Park Chan-wook em OldBoy). A Cahiers du Cinéma, revista ainda encarada como a bíblia da cinefilia, abriu páginas para a obra de Bong em sua edição de maio, destacando Okja (2017) e Mother (2009), dizendo que ele é uma mistura de tudo o que se faz de bom em sua pátria, só que pop e com desfechos inusitados em escolha de dramaturgia.

“Eu me considero um realizador de filmes de gênero, que lida com cartilhas próprias, mas que busca fugir de obviedades. E tenho um lado passional: quando O Hospedeiro foi lançado eu lembro de ter sentido muito ódio de filmes de monstro como o meu”, disse o cineasta na coletiva de imprensa dos vencedores – e ele venceu com unanimidade do júri.

Hilário… pelo menos até o momento em que descamba para o derramamento de sangue, Parasite segue os passos de uma família de picaretas profissionais que inventam as mais estapafúrdias ideias para se esquivarem de guardas que podem prendê-los pelos delitos que cometem. O foco aqui é a realização de um crime específico: infiltrar toda o clã na casa de um casal de ricaços, que precisa de babá, de governanta, de motorista. Todos estão dispostos a fingir que vieram para ajudar: mas o que querem é conforto, dinheiro, prazer. Mas há algo de inusitado guardado no porão do casarão que eles tentam transformar em lar.

“Miyazaki, o mestre japonês da fábula animada foi uma grande inspiração para a minha vida e para Okja, que concorreu à Palma em 2017. Mas aqui, não, eu preferi um modelo coreano a fim de ter um parâmetro. Minha influência aqui não vem da carga de liberdade da arte de Miyazaki, mas de um diretor, coreano específico: Kim Ki-Young, que dirigiu A Criada e nos deu uma forma particular de representação”, diz Bong, ansioso para que o longa emplaque ainda no gosto dos espectadores.

Havia um medo inicial de que seu filme pudesse ser “Coreia do Sul na veia” demais, o que caiu por terra após a reação em coro de adesão de Cannes ao filme. “Ele é muito coreano, mas fala de família, coisa que todo mundo tem, então todos me entenderão”, diz Bong. “Eu sigo a linha dos gêneros, mas com estilo próprio”.