Entretenimento e Cultura

Filme colombiano premiado em Cannes usa tom seco, mas não cede ao sentimentalismo

Filme colombiano premiado em Cannes usa tom seco, mas não cede ao sentimentalismo Filme colombiano premiado em Cannes usa tom seco, mas não cede ao sentimentalismo Filme colombiano premiado em Cannes usa tom seco, mas não cede ao sentimentalismo Filme colombiano premiado em Cannes usa tom seco, mas não cede ao sentimentalismo

São Paulo – Mais uma prova do excelente momento do cinema colombiano, A Terra e a Sombra, do estreante César Augusto Acevedo, foi vencedor do prêmio Caméra d’Or, do Festival de Cannes. Reconhecimento internacional é bom. Ainda mais quando se mostra plenamente merecido, como no caso. O filme é despojado, sem deixar de ser intenso. Aponta uma situação de injustiça social, sem cair no miserabilismo (ou seja, na exaltação estética da pobreza). É político, sem esquecer que, no cinema, o humano aparece antes de tudo, das convicções pessoais e teses sociológicas.

A história começa com um longo plano em que vemos um caminhante, já de idade, percorrendo a estrada que corta um canavial. Trata-se de Alfonso, que regressa ao lar depois de uma ausência de anos. Ele volta para ajudar a família a cuidar do seu filho, doente e jogado numa cama. Como é composta essa família? Da ex-mulher de Alfonso, seu filho doente, a nora e um neto. Por um lado, o filme aponta a questão familiar, a tentativa de reatar laços rompidos há muito tempo. Não interessam as razões desse corte. Elas ficarão em suspenso.

Mais marcantes, segundo a própria percepção do homem que volta, são as mudanças do local e suas consequências. Antes rodeada por uma floresta, a pequena propriedade agora foi abraçada por um canavial. O corte da cana e as queimadas periódicas para limpar o terreno causam uma terrível poluição – razão da doença pulmonar no filho. Com o homem doente, as duas mulheres da casa – sogra e nora – precisam se incorporar ao exército de boias-frias no corte da cana.

Em termos de linguagem cinematográfica, Acevedo exibe domínio de câmera. Sóbrio, usa o tom seco que, em momento algum, cede ao sentimentalismo. A opção estética é sóbria, e por isso o filme emociona sem chantagear. “Quero meu público comovido, mas lúcido”, diz o grande cineasta argentino Fernando Birri. É isso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.