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Filmes da mostra italiana abordam relações familiares

Filmes da mostra italiana abordam relações familiares Filmes da mostra italiana abordam relações familiares Filmes da mostra italiana abordam relações familiares Filmes da mostra italiana abordam relações familiares

São Paulo – Pais e filhos, mães e filhas. Alguns dos mais interessantes filmes – os melhores – da 10ª Mostra de Cinema Italiano abordam relações familiares. Aliás, pode até ser ressaca da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas o evento iniciado na semana passada, e que trouxe ao Brasil a diva Mareia Grazia Cucinotta, não está atraindo o público na razão direta de suas qualidades. Tudo bem que o público jovem prefere o novo Jogos Vorazes, mas a frequência na sala do Caixa Belas Artes e no Cine Livraria Cultura anda abaixo da expectativa, ou dos números que edições anteriores da mostra italiana já apresentaram.

É curioso como Gianni Amelio e Pupi Avati parecem ir na contramão um do outro. Em Um Ragazzo d’Oro, Avati conta a história de um jovem ressentido com o pai, mas que termina se sacrificando por ele. O garoto de ouro é um escritor talentoso, o pai foi um roteirista de filmes populares – medíocres, segundo o gosto do filho. A morte do pai lança o jovem numa crise. Ao ouvir falar numa possível obra-prima que ele estaria escrevendo, o protagonista tudo arrisca e tudo sacrifica. Fica louco de pedra, mas restaura, no próprio imaginário, a memória do pai.

E olhem que, no elogio fúnebre, ele fez uma crítica. Disse que o melhor que os pais podem fazer é morrer e permitir que os filhos sigam seu caminho. O pai de Um Fiovane Favoloso, de Mario Martone, sobre a juventude do poeta Giacomo Leopardi, faz de tudo para inibir a carreira do filho. O filme é ótimo, e Elio Germano, que faz o papel, é impecável na expressão da dor e do sofrimento de Leopardi. O filme não narra apenas sua via-crúcis – sofria de uma doença degenerativa que o deixou corcunda – como ilustra a erudição e o processo criativo. O personagem fascina, tanto quanto deprime.

O pai de L’Intrepido/Um Herói Solitário, de Amelio, trabalha como substituto. Tem um filho músico que dificulta a vida de todos ao redor. Chega um momento em que, ao contrário do pai e filho de Pupi Avati, o de Amelio ensaia substituir o próprio filho num concerto. O seu garoto descobre que o importante é amar-se. O filme é lindo. Dá a volta por cima da próprias tristeza e ainda tem na trilha variações em saxofone das mítica Wonder Boy. There was a boy… Emocionante.

Roberto Faenza, em Anita B, volta ao tema do Holocausto. Uma garota judia que sobreviveu ao campo de concentração vive conversando com a mãe, que morreu. Ao redor, todos querem esquecer o passado numa Europa dividida entre comunismo e americanização. Ela resiste. Quer ser a memória viva do seu povo, da sua família. Farenza tem um belo filme no currículo, Sostiene Pereira, que no Brasil se chamou Páginas da Revolução, com Marcello Mastroianni, sobre a resistência ao salazarismo, em Portugal.

A Mulher do Alfaiate/La Moglie del Sarto, de Massimo Scaglione, com La Cucinotta, também fala de mãe e filha. Uma mãe difamada que faz o sacrifício de gerar o filho que a filha não pode ter. São todos belos filmes – bons. Estarão em cartaz, em diferentes horários, até quarta, na mostra italiana. Mais que dar uma chance aos filmes, dê a você, leitor/leitora, a chance de compartilhar experiências de estética, e vida.