Uma sequência divertida, cheio de referências aos jogos, mas ainda irregular (Foto: Reprodução/X/@UniversalPicsBr)
Uma sequência divertida, cheio de referências aos jogos, mas ainda irregular (Foto: Reprodução/X/@UniversalPicsBr)

A aguardada sequência de “Five Nights at Freddy’s” chega aos cinemas com o amor dos fãs da cultuada franquia de jogos de terror, sendo antes de tudo, um presente para esse público fiel, repleto de referências e elementos que a comunidade teoriza há anos. 

No entanto, essa devoção aos fãs também revela a maior fraqueza da produção: um roteiro cheio de pontas soltas, decisões pouco explicadas e uma narrativa que muitas vezes esquece de contar sua própria história para quem não conhece os jogos. Se o primeiro filme ao menos tentava contextualizar o básico, aqui o espectador casual pode simplesmente ficar perdido diante de informações não ditas.

Novos rostos, erros antigos

A trama continua acompanhando Mike e Abby e Vanessa após os eventos do longa anterior. Dessa vez, a jovem Abby sente falta de seus “amigos” animatrônicos e acaba sendo levada para uma nova pizzaria, onde novos mistérios surgem, especialmente envolvendo o passado de Vanessa e William Afton. 

Entre diálogos confusos, o filme abraça o fanservice sem medo (Foto: Reprodução/X/@Fandango)

Já na abertura, um flashback chocante estabelece o tom e revela detalhes importantes sobre a origem da Marionete, agora com muito mais espírito vingativo do que uma guardiã. A personagem, aliás, é um dos maiores acertos do filme. Ela é sombria, perturbadora, tem uma presença forte e uma motivação dramática muito sólida, oferecendo algumas das melhores cenas do longa.

Apesar disso, o filme falha no desenvolvimento dos personagens centrais. Vanessa tem uma história naturalmente instigante, cercada pelos pecados do pai serial killer, mas o roteiro a trata de forma superficial e sem coragem de aprofundar sua dor. O próprio William e o criador do restaurante, Henry Emily, surgem quase como figuras de lembrete, guardando seu real desenvolvimento para o terceiro filme, sendo que a relação entre eles mal é explicada.

Até mesmo Michael, um personagem novo que deveria causar impacto, revela sua identidade de forma óbvia demais, principalmente para quem já conhece a franquia, e sem grande construção dramática. Sua representação acaba sendo tão caricata que você não consegue entender por que os personagens confiam nele desde o princípio.

A grande verdade é que tanto os fãs quanto o público estão muito mais engajados em ver os animatrônicos e suas histórias tristes do que todo este destaque nos demais personagens humanos, que apesar de terem sua importância para que a história ande, sempre serão o verdadeiro charme da saga.

Um terror irregular, mas cheio de carisma

O roteiro entrega diálogos questionáveis que dizem uma coisa e ações que fazem outra, sem explicação clara. O resultado é uma narrativa que avança, mas que ainda sofre com diversos problemas. Os créditos finais simplesmente surgem, encerrando tudo sem real conclusão e deixando apenas uma preparação para o terceiro capítulo.

Por outro lado, o filme compensa essas falhas com muita energia. Diferente do primeiro longa, que sofria com ritmo lento e cenas repetidas, o segundo filme é mais dinâmico e direto ao ponto. As sequências dentro da pizzaria são um deleite quando abordam mecânicas e estratégias que existem no segundo jogo, mesmo que não façam muito sentido fora do contexto do game.

Os animatrônicos seguem sendo o coração da história (Foto: Reprodução/X/@Fandango)

jumpscares previsíveis, mas que realmente pegam, como sempre foram nos jogos, além de momentos de tensão bem construídos pela diretora Emma Tammi, entretanto, a classificação indicativa e o próprio apelo infanto-juvenil da base de fãs impedem que o filme explore mais violência gráfica ou construções mais sofisticadas do terror. Ainda assim, a atmosfera funciona.

A recriação e os enquadramentos da nova pizzaria fazem o público sentir que está “dentro” do universo da franquia. Os animatrônicos surgem em novas versões, algumas mais perturbadoras, reforçando o fator nostalgia e garantindo momentos icônicos. E sim: há uma grande surpresa na parte final, algo que só posso descrever como um fanservice tão super-heróico quanto cafona, mas que consegue funcionar, apenas por abraçar o tom da franquia.

No fim, “Five Nights at Freddy’s 2” cumpre bem seu objetivo principal de entreter e agradar uma comunidade apaixonada. A sensação final é de “quero mais”, não porque o filme seja brilhante, mas porque ele claramente está preparando algo maior para o terceiro capítulo, que promete ser o mais importante ao adaptar o jogo estrelado pelo grande vilão da saga.

Não estamos falando de uma obra-prima do terror e, sinceramente, é algo que nunca tentou ser. É pura diversão caótica, feita sob medida para quem cresceu teorizando em fóruns, revisitando fitas VHS imaginárias na internet e encarando animatrônicos que jamais saíram da cabeça. E se o terceiro filme realmente amarrar tudo que este deixou solto, a espera pode valer a pena.

Gabriel Miranda

Repórter

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.