
A aguardada sequência de “Five Nights at Freddy’s” chega aos cinemas com o amor dos fãs da cultuada franquia de jogos de terror, sendo antes de tudo, um presente para esse público fiel, repleto de referências e elementos que a comunidade teoriza há anos.
No entanto, essa devoção aos fãs também revela a maior fraqueza da produção: um roteiro cheio de pontas soltas, decisões pouco explicadas e uma narrativa que muitas vezes esquece de contar sua própria história para quem não conhece os jogos. Se o primeiro filme ao menos tentava contextualizar o básico, aqui o espectador casual pode simplesmente ficar perdido diante de informações não ditas.
Novos rostos, erros antigos
A trama continua acompanhando Mike e Abby e Vanessa após os eventos do longa anterior. Dessa vez, a jovem Abby sente falta de seus “amigos” animatrônicos e acaba sendo levada para uma nova pizzaria, onde novos mistérios surgem, especialmente envolvendo o passado de Vanessa e William Afton.

Já na abertura, um flashback chocante estabelece o tom e revela detalhes importantes sobre a origem da Marionete, agora com muito mais espírito vingativo do que uma guardiã. A personagem, aliás, é um dos maiores acertos do filme. Ela é sombria, perturbadora, tem uma presença forte e uma motivação dramática muito sólida, oferecendo algumas das melhores cenas do longa.
Apesar disso, o filme falha no desenvolvimento dos personagens centrais. Vanessa tem uma história naturalmente instigante, cercada pelos pecados do pai serial killer, mas o roteiro a trata de forma superficial e sem coragem de aprofundar sua dor. O próprio William e o criador do restaurante, Henry Emily, surgem quase como figuras de lembrete, guardando seu real desenvolvimento para o terceiro filme, sendo que a relação entre eles mal é explicada.
Até mesmo Michael, um personagem novo que deveria causar impacto, revela sua identidade de forma óbvia demais, principalmente para quem já conhece a franquia, e sem grande construção dramática. Sua representação acaba sendo tão caricata que você não consegue entender por que os personagens confiam nele desde o princípio.
A grande verdade é que tanto os fãs quanto o público estão muito mais engajados em ver os animatrônicos e suas histórias tristes do que todo este destaque nos demais personagens humanos, que apesar de terem sua importância para que a história ande, sempre serão o verdadeiro charme da saga.
Um terror irregular, mas cheio de carisma
O roteiro entrega diálogos questionáveis que dizem uma coisa e ações que fazem outra, sem explicação clara. O resultado é uma narrativa que avança, mas que ainda sofre com diversos problemas. Os créditos finais simplesmente surgem, encerrando tudo sem real conclusão e deixando apenas uma preparação para o terceiro capítulo.
Por outro lado, o filme compensa essas falhas com muita energia. Diferente do primeiro longa, que sofria com ritmo lento e cenas repetidas, o segundo filme é mais dinâmico e direto ao ponto. As sequências dentro da pizzaria são um deleite quando abordam mecânicas e estratégias que existem no segundo jogo, mesmo que não façam muito sentido fora do contexto do game.

Há jumpscares previsíveis, mas que realmente pegam, como sempre foram nos jogos, além de momentos de tensão bem construídos pela diretora Emma Tammi, entretanto, a classificação indicativa e o próprio apelo infanto-juvenil da base de fãs impedem que o filme explore mais violência gráfica ou construções mais sofisticadas do terror. Ainda assim, a atmosfera funciona.
A recriação e os enquadramentos da nova pizzaria fazem o público sentir que está “dentro” do universo da franquia. Os animatrônicos surgem em novas versões, algumas mais perturbadoras, reforçando o fator nostalgia e garantindo momentos icônicos. E sim: há uma grande surpresa na parte final, algo que só posso descrever como um fanservice tão super-heróico quanto cafona, mas que consegue funcionar, apenas por abraçar o tom da franquia.
No fim, “Five Nights at Freddy’s 2” cumpre bem seu objetivo principal de entreter e agradar uma comunidade apaixonada. A sensação final é de “quero mais”, não porque o filme seja brilhante, mas porque ele claramente está preparando algo maior para o terceiro capítulo, que promete ser o mais importante ao adaptar o jogo estrelado pelo grande vilão da saga.
Não estamos falando de uma obra-prima do terror e, sinceramente, é algo que nunca tentou ser. É pura diversão caótica, feita sob medida para quem cresceu teorizando em fóruns, revisitando fitas VHS imaginárias na internet e encarando animatrônicos que jamais saíram da cabeça. E se o terceiro filme realmente amarrar tudo que este deixou solto, a espera pode valer a pena.