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Crítica: Superman ressignifica o herói para o mundo atual

Novo filme do Superman chega aos cinemas, nesta semana, com uma missão ambiciosa. Leia a crítica completa

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Still do filme Superman (2025), mostrando o personagem principal, vivido por David Corenswet
Superman ressignifica o herói para o mundo atual (Foto: Divulgação/Warner Bros.)

“Você vai acreditar que um homem pode voar”, diziam os cartazes de Superman: The Movie, em 1978. Foi com essa frase que o diretor Richard Donner conquistou os corações da audiência. Quase 50 anos depois, o novo filme do personagem chega aos cinemas com uma missão ainda mais ambiciosa: mostrar que o maior poder do Superman não é voar, mas, sim, ser humano.

Dirigido por James Gunn, Superman é o ponto de partida do novo universo DC nos cinemas. No longa, acompanhamos o herói questionando suas origens em meio a um conflito entre duas nações. Ele ainda precisa enfrentar ameaças como a Engenheira, o Ultraman, e seu arqui-inimigo, Lex Luthor.

Existe uma percepção bastante cínica e pessimista do Superman nos tempos atuais. Diversas produções mostram seus poderes como um fardo ou um objeto de corrupção. Gunn entende isso como o ponto de partida da narrativa: compreender como o super-herói se mantém bom, justo e integro, apesar de seu poder.

Verdade, justiça e um amanhã melhor

Essa premissa serve como a espinha dorsal de um longa que, para além de reintroduzir o personagem, também serve para introduzir formalmente o novo universo DC nos cinemas.

É nesse escopo grandioso que Gunn revela suas maiores forças e fragilidades enquanto diretor. Apesar de ter construído sua carreira com adaptações de quadrinhos, o diretor sempre focou em personagens menos populares.

O salto de projetos como Guardiões da Galáxia e Pacificador para um filme que precisa não apenas ressignificar um dos maiores personagens da história, mas também introduzir um novo universo cinematográfico não é dos mais suaves — mas, ainda assim, convence.

Habituado a trabalhar com personagens menores e considerados párias da sociedade, Gunn encontra uma forma de tornar, também, o Superman um excluído. Apesar de interessante e nunca antes vista no cinema, a ideia não é sempre bem executada por conta de excessos.

“Superman” não é um filme de origem (Foto: Reprodução/Youtube/@WarnerBrosPicturesBR)

Excessos, talvez, sejam o maior mérito e o maior defeito do filme. O longa introduz um mundo onde super-heróis existem e são parte do dia-a-dia das pessoas. Não é um universo DC em desenvolvimento, mas um universo completo, coeso e cheio de vida.

Nesse sentido, os excessos funcionam. O filme captura perfeitamente a experiência de ler um quadrinho ao lançar o espectador no meio da história — e é, talvez, a adaptação de HQs que faz isso de forma mais acertada até hoje. Nada de histórias de origem por aqui: esse Superman já é um herói formado e já interage com outros super-heróis.

O filme peca pela grandiosidade

Porém, os excessos se mantêm em outras instâncias menos agradáveis. O excesso de personagens, por exemplo, se torna um problema quando muitos deles não têm tempo para serem bem desenvolvidos.

A falta de desenvolvimento não se aplica apenas aos personagens, mas também às tramas do filme. O longa abre muitas linhas narrativas, mas não se propõe a explorar quase nenhuma delas por completo, o que é frustrante.

A direção de Gunn é outro ponto que deixa a desejar. Existem problemas de ritmo e tom inconsistentes bem presentes na primeira metade do filme, e, visualmente falando, o longa deixa a desejar em muitas cenas.

Apesar disso, o filme se sustenta bem, em grande parte do tempo. Muito disso é graças aos atores, todos extremamente bem escalados. É o raro caso de um filme que não tem nenhum elo fraco em seu elenco.

Rachel Brosnahan está incrível como Lois Lane (Foto: Reprodução/Youtube/@EntertainmentTonight)

A brilhante Rachel Brosnahan está incrível como Lois Lane e transborda química com todo o elenco. Nicholas Hoult entrega um Lex Luthor cheio de ódio e inveja, trazendo uma performance super interessante e que se destaca em meio a outras interpretações do vilão.

Mas a grande estrela do filme é David Corenswet como o herói-título. O ator traz camadas e complexidades muito interessantes para o personagem, apresentando um Clark Kent menos passivo, mas ainda heroico e otimista. Sua interpretação é memorável, e ele se torna um dos melhores atores a usarem o brasão do herói.

O herói que o mundo precisa

Em uma das cenas mais interessantes do filme, Clark e Lois debatem, durante uma entrevista, o papel do Superman para a humanidade. Apesar de concordarem em vários pontos, a autonomia do herói para agir e o que ele simboliza são pontos de discordância entre o casal.

Clark é bastante claro em seu posicionamento: ele vai salvar quem precisar ser salvo e não vai tolerar injustiças, independentemente de qualquer coisa. Ele não é um herói para os Estados Unidos, mas para o mundo todo.

São nessas complexidades que Corenswet e Gunn conseguem alcançar o objetivo do filme: explorar a humanidade do Superman. São essas complexidades, também, que tornam o filme memorável e relevante.

Ao mostrar um Superman com opiniões, crenças e posicionamentos bastante definidos sobre assuntos como guerras, imperialismo, genocídio e geopolítica, o filme se destaca entre os demais blockbusters hollywoodianos.

Criado como uma alusão à imigração, a mitologia do Superman sempre foi repleta de discussões sobre o tema, e o filme não hesita em tocar em feridas atuais e relevantes para o mundo.

É nesse ponto que o filme entende e acerta na humanidade do personagem: o que torna o Superman um herói não são seus poderes, mas sua compaixão. É na necessidade de ajudar quem precisa que o personagem encontra sua humanidade. E, num momento tão cínico e pessimista quanto o atual, é exatamente isso que torna o Superman o herói que o mundo precisa.

Matheus Ribeiro*

*Estagiário

Cineasta em formação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), atua como estagiário do Núcleo de Plataformas Digitais da Rede Vitória. Escreve sobre cinema e televisão.

Cineasta em formação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), atua como estagiário do Núcleo de Plataformas Digitais da Rede Vitória. Escreve sobre cinema e televisão.