A segunda parte do aguardado musical que reconta a história das bruxas de Oz começa exatamente onde a fantasia se partiu no final do filme anterior, mas agora a história assume de vez seu lado mais dramático e deixa claro as escolhas difíceis e consequências dolorosas.
A decisão de dividir o musical em dois longas foi um acerto, não só por uma visão de mercado, mas também porque deu espaço para a narrativa respirar e fez o público viver a mesma pausa que existe no teatro, uma verdadeira intermissão entre dois mundos.
Com mais tempo, a trama se abre de forma mais clara do que no segundo ato da peça. Os arcos paralelos ganham vida, novos cenários aparecem e até os personagens clássicos ligados à história de Oz surgem com mais propósito.
Aqui, tudo é construído para que possamos entender melhor como cada escolha conduz os personagens a um futuro que nunca é totalmente preto ou branco, muito menos verde ou rosa. Mesmo quando o ritmo vacila, a expansão do universo dá força à jornada final.

Se há algo que define esta segunda parte, é a ideia de que nenhum personagem é totalmente bom ou mau. Glinda, agora vista como a grande figura pública de Oz, vive uma crise silenciosa ao sustentar a mentira que transforma a inocente Elphaba em vilã, a temida Bruxa Má do Oeste.
Essa tensão move a história inteira, já que ambas precisam lidar com o peso dos próprios atos, e, no fim, com o que perderam pelo caminho. É esse conflito que torna a trama emocionalmente rica e tão diferente da fantasia tradicional.
Novas músicas, novos riscos
Ariana Grande entrega uma Glinda contraditória, vulnerável e muito mais complexa do que seu brilho rosa deixa imaginar. Sua interpretação é refinada e carrega uma emoção que transparece mesmo quando ela está sozinha em cena.
Por sua vez, Cynthia Erivo sustenta Elphaba com força, doçura e uma raiva muito humana. O auge da personagem na nova trama é durante a música “No Good Deed”, que ganha no cinema um impacto digno da personagem. Os coadjuvantes também crescem, em especial Nessa, que ganha um arco mais completo e doloroso.
Mas falando na trilha sonora, devo dizer que as duas músicas inéditas feitas para a obra não alcançam o peso das já consagradas do primeiro filme. “A Girl in the Bubble” quebra o ritmo em um momento chave, enquanto “No Place Like Home” oferece mais valor temático do que impacto musical.
Ainda assim, os momentos em que roteiro decide pecar acaba sendo pelo excesso, preenchendo lacunas que o musical nunca teve tempo de desenvolver. O resultado é uma narrativa mais explicativa, que às vezes perde fluidez mas não derruba o filme, mesmo que seja notável.

Um adeus à altura da história
O visual continua deslumbrante, com figurinos que parecem vitrôs ganhando vida e uma direção estética que abraça a grandiosidade do musical. Mesmo sem ser perfeito, o filme entrega emoção verdadeira, especialmente na reta final.
A canção “For Good” mantém sua força, e a despedida das personagens é feita com delicadeza, respeito e muita coragem — do jeitinho que a obra sempre mereceu.
No fim, “Wicked: Parte 2” não só honra o legado do musical como eleva o que já funcionava. É um desfecho grandioso e visualmente arrebatador, daqueles que fazem até quem já conhece a história se emocionar como se fosse a primeira vez. Para os fãs, é um alívio: a adaptação não apenas preserva a magia, ela a amplia.