Análise

A saga dos direitos da Marvel: da falência ao sucesso do MCU

Por trás do sucesso, a batalha pelos direitos dos heróis moldou o que conhecemos como o Universo Cinematográfico da Marvel

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Quarteto Fantástico em novo filme da Marvel
Em "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos", primeira família da Marvel é introduzida ao MCU depois de passar anos sob guarda-chuva da Fox (Foto: Reprodução/Youtube)

Com estreia marcada para esta quinta (24), “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” representa mais do que o retorno de uma das equipes mais icônicas dos quadrinhos, mas também simboliza a reconquista dos direitos de personagens que, por anos, estiveram fora do alcance criativo da Marvel Studios.

E para entender como esses heróis passaram tanto tempo afastados do Universo Cinematográfico da Marvel, é preciso voltar no tempo e observar um período turbulento da empresa que hoje é um verdadeiro império do entretenimento.

Declínio e as vendas de direitos

Stan Lee foi um dos principais responsáveis para o sucesso da Marvel (Foto: Reprodução/Instagram/@therealstanlee)

A Marvel cresceu nos anos 60 com heróis mais humanos e cheios de conflitos pessoais, como o Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Hulk e X-Men. Isso fez a editora se destacar da concorrência e marcou o início de uma nova fase nos quadrinhos.

Nos anos 80, o mercado começou a mudar, pois histórias mais sombrias passaram a atrair colecionadores adultos, e a Marvel investiu em edições variantes e produtos especiais. Isso gerou um crescimento artificial, alertado por autores como Neil Gaiman, que previam uma bolha especulativa prestes a estourar.

Em 1989, a Marvel foi comprada por Ron Perelman, que tentou expandir a marca com empresas de brinquedos e produtos licenciados. Mas os aumentos nos preços e o foco no mercado de colecionadores deram errado. Em 1996, a editora declarou falência, no pior momento de sua história.

”Blade”, ”X-Men” e ”Homem-Aranha” renovaram a Marvel nos cinemas (Foto: Divulgação/New Line Cinema/20th Century Fox/Sony Pictures)

Porém, antes mesmo da falência, a Marvel já havia começado a vender os direitos cinematográficos de seus personagens. A 20th Century Fox ficou com os X-Men e o Quarteto Fantástico, enquanto a Sony adquiriu o Homem-Aranha, nos anos 90. A medida foi uma forma de gerar receita e garantir a sobrevivência da editora, mas os acordos foram feitos por valores baixos e com pouca participação nos lucros para a Marvel.

A estreia de “Blade: O Caçador de Vampiros”, em 1998, marcou uma virada. O sucesso do filme mostrou que adaptações de quadrinhos podiam atrair grandes públicos. Depois vieram “X-Men” e “Homem-Aranha”, que alcançaram bilheterias gigantescas. Mesmo assim, a Marvel lucrava pouco com esses sucessos e ainda via seus personagens em outras produções sem controle criativo, como “Demolidor: O Homem Sem Medo” e “Motoqueiro Fantasma”.

A criação da Marvel Studios

O Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) se tornou um fenômeno (Foto: Reprodução/Marvel Studios)

Cansada de ver seus personagens rendendo milhões para outros estúdios e ainda sendo mal adaptados, a Marvel decidiu criar sua própria produtora: a Marvel Studios. A iniciativa começou com “Homem de Ferro”, em 2008. O sucesso foi imediato, US$ 585,3 milhões de bilheteria com um orçamento de US$ 140 milhões. Robert Downey Jr. voltou ao estrelato, e nascia oficialmente o Universo Cinematográfico da Marvel, que ficaria conhecido pela sigla em inglês, MCU.

A estratégia era simples e eficaz: usar personagens cujos direitos ainda pertenciam à editora, como Homem de Ferro, Capitão América e Thor, para construir um universo conectado, onde os filmes se complementassem até culminar em uma história maior, como em “Os Vingadores”. Após a compra pela Disney e com a liderança do produtor Kevin Feige, o MCU se expandiu rapidamente e se tornou a franquia mais lucrativa da história do cinema.

Disputas, acordos e recompra de direitos
Os três principais segmentos da Sony envolvendo o Homem-Aranha (Foto: Reprodução/Marvel Studios/Sony Pictures Animation/Sony Pictures)

Porém, a questão dos direitos continuou gerando desafios. Após o fraco desempenho de “O Espetacular Homem-Aranha 2”, a Sony fechou um acordo com a Marvel Studios para integrar o personagem ao MCU. Com isso, Tom Holland foi escolhido como o novo Peter Parker, fazendo sua estreia em “Capitão América: Guerra Civil”.

A Sony manteve os direitos e a distribuição dos filmes solo do herói, enquanto a Marvel assumiu o controle criativo e a possibilidade de usá-lo em suas produções. A parceria foi renovada após o enorme sucesso de “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”, que ultrapassou a marca de um bilhão nas bilheteiras. O próximo filme, intitulado “Homem-Aranha: Um Novo Dia”, está previsto para julho de 2026.

Enquanto isso, a Sony continuou desenvolvendo seu próprio universo derivado dos vilões do herói. A franquia “Venom” começou bem em 2018, mas o desempenho do último filme foi mais fraco, levando a empresa a rever suas estratégias. O fracasso de “Morbius” e “Kraven, o Caçador” resultou na suspensão deste projeto, mas o estúdio segue firme com as animações do “Aranhaverso” e a série “Homem-Aranha Noir”, em desenvolvimento para a Prime Video.

A Fox impediu a entrada dos personagens no MCU até ser adquirida pela Disney (Foto: Reprodução/20th Century Fox)

Outros personagens também enfrentaram disputas legais, como Mercúrio e Feiticeira Escarlate. Eles faziam parte do universo dos X-Men nos cinemas da Fox, mas também eram integrantes dos Vingadores nos quadrinhos. Um acordo entre os estúdios permitiu que ambos usassem os personagens, com restrições: a Fox podia retratá-los como mutantes e filhos de Magneto, enquanto a Marvel os apresentou apenas como experimentos da Hydra.

A Fox também relutou por anos em devolver os direitos do Quarteto Fantástico, mesmo após fracassos nas bilheteiras. Os filmes lançados em 2005, 2007, e principalmente o reboot de 2015 tiveram recepção negativa, mas o estúdio insistia em manter a franquia, o que impedia a Marvel de integrá-los ao MCU com mais fidelidade aos quadrinhos.

Com a expansão do MCU, a Marvel Studios passou a buscar a recompra dos direitos de seus personagens. A aquisição da 20th Century Fox pela Disney, em 2019, foi um marco: X-Men, Quarteto Fantástico e Deadpool retornaram ao controle da Marvel. Desde então, novos projetos estão em andamento, como “Deadpool & Wolverine”, que mantém o estilo irreverente e ainda homenageia a fase Fox, enquanto os X-Men serão reiniciados no MCU, em um novo filme dirigido por Jake Schreier, também responsável por “Thunderbolts*”.

Novos desafios da casa de ideias

Após anos enfrentando dificuldades financeiras, a Marvel se reergueu e se tornou uma potência que dominou o cinema, a TV, o streaming e os quadrinhos, ao recuperarem os direitos de seus personagens e assumir o controle criativo das histórias.

Com “Vingadores: Ultimato”, a Saga do Infinito foi encerrada, dando lugar à ambiciosa Saga do Multiverso. No entanto, o estúdio passou a ser criticado pelo excesso de lançamentos e pela queda na qualidade de algumas produções, o que contribuiu para uma percepção de desgaste do gênero. Esse cenário reacendeu a concorrência, especialmente com o novo “Superman”, da DC Studios, ganhando destaque.

E a Marvel também segue firme nesta renovação com a estreia de “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”, que além de uma nova abordagem, prepara o terreno para os próximos grandes eventos do MCU, que terá sua conclusão com dois novos filmes dos Vingadores, em dezembro de 2026 e 2027. Com isso, a Marvel reafirma sua capacidade de se reinventar e manter um universo sólido e interligado, mesmo diante dos desafios.

*Texto sob supervisão da editora Maeli Radis.

Gabriel Miranda*

*Estagiário

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.