Análise

"Número Desconhecido" e os traumas do cyberbullying

Documentário mostra como mensagens anônimas podem transformar a vida de jovens e adultos em um pesadelo. Leia análise completa

Leitura: 4 Minutos
Produção retrata um caso real que chocou o mundo com uma reviravolta assustadora (Foto: Reprodução/Youtube/Netflix)
Produção retrata um caso real que chocou o mundo com uma reviravolta assustadora (Foto: Reprodução/Youtube/Netflix)

“Número Desconhecido: Catfishing na Escola”, o novo documentário da Netflix, chama a atenção não apenas pelo absurdo da história real que retrata, mas também pelo impacto emocional que provoca em quem assiste.

O que começa como uma sequência de mensagens anônimas enviadas a dois adolescentes rapidamente se transforma em um retrato perturbador de manipulação e violência psicológica. O que parecia ser apenas um caso de cyberbullying revela-se uma trama muito mais sombria.

Não só cyberbullying, algo muito pior

A produção acompanha Lauryn Licari e Owen McKenny, estudantes de uma pequena cidade de Michigan, que se tornaram vítimas de mensagens ameaçadoras e de cunho sexual enviadas de números desconhecidos. O conteúdo era invasivo, constante e agressivo, chegando a dezenas de mensagens por dia.

As vítimas não imaginavam o trauma que as mensagens causariam (Foto: Reprodução/Youtube/Netflix)

O objetivo parecia claro: desestabilizar emocionalmente Lauryn e colocar em risco sua relação com Owen. Ao longo de mais de um ano, a situação saiu do controle, envolvendo a escola, os pais, outros jovens, a polícia local e até mesmo o FBI.

O ponto alto do documentário está na construção do suspense em torno da investigação. O roteiro levanta hipóteses, apresenta suspeitos e alimenta a expectativa de que a resposta virá de onde menos se espera. E, de fato, a revelação é devastadora. A forma como a pessoa responsável se envolveu no processo cria um contraste que torna a história ainda mais perturbadora.

O que começou como um jogo cruel acabou devastando o psicológico não apenas dos jovens envolvidos, mas também de adultos que se viram impotentes diante da situação. O resultado foi um trauma coletivo, prova de como atitudes desse tipo podem transformar vidas para pior de maneira irreversível.

Um crime difícil de esquecer

Dezenas de mensagens invasivas que arruinaram vidas (Foto: Reprodução/Youtube/Netflix)

O documentário tem um ritmo acelerado, lembrando a forma como consumimos conteúdos nas redes sociais, o que transmite a sensação de que a história nunca para de avançar. Esse estilo torna a experiência envolvente e fácil de acompanhar, mas deixa de lado pontos que poderiam torná-la ainda mais rica.

Pouco se fala sobre as falhas da escola e da polícia no enfrentamento da perseguição ou sobre as razões mais profundas que levaram tudo a se desenrolar daquela forma — aspectos perceptíveis, mas que nunca são explorados a fundo. Ainda assim, é impossível negar a força da obra.

As revelações e o desconforto gerado garantem que ela permaneça na memória por muito tempo, cumprindo a tarefa de provocar debates. “Número Desconhecido: Catfishing na Escola” se destaca porque o que vemos na tela é tão absurdo que poderia ser ficção, mas o fato de ser real o torna ainda mais inquietante e capaz de embrulhar estômagos.

Gabriel Miranda

Repórter

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.