A Warner Bros. divulgou recentemente o primeiro teaser de “O Morro dos Ventos Uivantes”, e a produção já enfrenta fortes críticas. A adaptação apresenta Margot Robbie e Jacob Elordi em cenas de teor erótico, ausentes no romance original publicado em 1847.
Além disso, a escolha de Elordi como Heathcliff reacendeu debates sobre representatividade, pois o personagem é descrito com pele escura e de origem cigana, e, mais uma vez, será interpretado por um ator branco (a adaptação de 2011 é a única exceção à regra).
Acontece que o whitewashing, ou embranquecimento, é um problema histórico do cinema estadunidense.
História e a persistência do embranquecimento
A prática de substituir personagens de minorias étnicas por atores brancos reforça estereótipos raciais. Por décadas, a maior parte dos executivos de cinema foi formada por brancos, o que influenciou escolhas de elenco baseadas principalmente em interesses comerciais.
Casos recentes incluem Matt Damon em “A Grande Muralha”, Scarlett Johansson em “Ghost in the Shell”, Tilda Swinton em “Doutor Estranho” e o elenco majoritariamente branco de “Deuses do Egito”. Essas decisões geraram protestos, debates sobre apropriação cultural e questionamentos sobre a fidelidade e autenticidade das adaptações.
O filme “O Último Mestre do Ar”, dirigido por M. Night Shyamalan, é outro exemplo claro de embranquecimento. A adaptação do desenho da Nickelodeon ocidentalizou personagens inspirados em culturas asiáticas: os protagonistas foram interpretados por atores brancos, enquanto os antagonistas ficaram a cargo de atores não-brancos, uma escolha que reforça a associação entre branco = heroísmo e cor = vilania.
Tais escolhas perpetuam a ideia de superioridade ocidental e marginalizam as culturas representadas, além de seguir padrões históricos de Hollywood, como o uso de blackface (prática em que atores brancos se pintam de preto para interpretar personagens negros) e yellowface (quando a maquiagem é feita para representar asiáticos).
Representações unilaterais e rasas prejudicam vários grupos
Mas o problema não acaba aí. A indústria também reforça estereótipos de gênero, etnia e orientação sexual. Personagens femininas são frequentemente fetichizadas ou retratadas como dependentes de um homem, além de passarem por transformações radicais de aparência, como em Diário de uma Princesa, para atender aos padrões de beleza.
Mulheres negras, por sua vez, são, frequentemente, expansivas, sedutoras ou economicamente desfavorecidas. Latino-americanos costumam ser retratados em papéis de classe baixa ou como amantes sensuais, ignorando a diversidade cultural e linguística da região.
Grupos LGBTQ+ foram inicialmente representados de forma insinuada, com estereótipos de homens afeminados ou reprimidos. Quando mais explícitos, esses personagens muitas vezes enfrentavam decadência ou tragédia em suas histórias, refletindo uma sociedade predominantemente homofóbica.
Já os árabes e povos do Oriente Médio são associados ao terrorismo ou exotismo, especialmente após os ataques de 11 de setembro.
Avanços e perspectivas de inclusão
Apesar de décadas de exclusão e estereótipos, avanços importantes já são visíveis. Samuel L. Jackson e Jason Momoa interpretando Nick Fury e Aquaman mostram que a diversidade pode ser incorporada sem comprometer a narrativa.
Adaptações modernas têm a chance de corrigir falhas históricas, dar protagonismo a minorias e promover uma representação cultural mais autêntica.
Hollywood ainda enfrenta esses desafios estruturais e produções como “O Morro dos Ventos Uivantes” demonstram que ainda há tensão entre fidelidade artística e inclusão continua. Corrigir essas práticas é essencial para dar voz a comunidades historicamente sub-representadas e tornar as narrativas mais inclusivas.