
A importância do Quarteto Fantástico dentro da Marvel é histórica. O grupo foi o pontapé inicial da chamada Era de Prata dos quadrinhos e serviu como base para toda a estrutura narrativa que a editora viria a construir.
Com uma abordagem que mesclava ficção científica, aventura cósmica e dramas familiares, os personagens se destacaram pela humanidade e pelas relações pessoais. No entanto, no cinema, o quarteto não teve a mesma sorte. Várias tentativas inconsistentes afastaram o público e comprometeram a imagem da equipe por quase duas décadas… pelo menos, até agora.
Proposta autoral para o MCU
“Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” representa, portanto, uma espécie de reparação. Dirigido por Matt Shakman, o mesmo responsável pela série “WandaVision”, o longa aposta em um estilo retrô-futurista que remete diretamente às origens da equipe nos anos 60, mas com um acabamento visual moderno e autoral, resultando em um filme muito diferente do que já vimos dentro do MCU.
Um dos maiores acertos da obra é evitar o clichê da origem. Ao apresentar os personagens já estabelecidos, o roteiro se permite aprofundar nas relações e dilemas morais. Franklin Richards, filho do Sr. Fantástico e da Mulher-Invisível, é o centro emocional do enredo, trazendo questionamentos sobre responsabilidade e o papel da família em um mundo ameaçado.
O roteiro é contido, mas eficaz, alternando momentos de introspecção com diálogos inteligentes, sem perder o ritmo.
Elenco fantástico
O elenco colabora decisivamente para que essa proposta funcione. Vanessa Kirby entrega uma Sue Storm determinada e vulnerável ao mesmo tempo, enquanto Pedro Pascal traz profundidade ao cientista genial que é o Reed Richards.
Joseph Quinn como Johnny Storm é impulsivo e carismático, e Ebon Moss-Bachrach rouba a cena como o Coisa, equilibrando brutalidade com sensibilidade.
A química entre os quatro é palpável e, pela primeira vez, o público vê um Quarteto realmente unido, não apenas funcional, mas emocionalmente conectado como a primeira família da Marvel sempre deveria ter sido representada nos cinemas.
Os antagonistas também são tratados com respeito e complexidade. A Surfista Prateada, agora vivida por Julia Garner, surge repaginada, mas sem perder sua essência trágica. Já Galactus, o devorador de mundos dublado e interpretado por Ralph Ineson, assume uma dimensão realmente cósmica e ameaçadora, com uma presença que se impõe e passa para o público a sensação de perigo e urgência que os heróis terão que enfrentar.
Família pronta para o futuro
Mesmo com duas cenas pós-créditos, sendo a primeira uma preparação para o próximo filme dos Vingadores, “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos” se encerra com autonomia, sem depender de obras anteriores ou ganchos forçados para justificar sua relevância. Ao fazer isso, rompe com um ciclo de adaptações frustradas e inaugura uma nova fase para a equipe, agora mais alinhada com sua essência original.
O longa surpreende ao explorar, com maturidade, temas como sacrifício, predestinação e a difícil escolha entre proteger o mundo ou preservar aqueles que se ama. A família, que sempre foi o pilar emocional dos quadrinhos, finalmente assume o protagonismo que merece, com a mensagem clara de que a força do grupo sempre esteve está na união.
Com visuais marcantes, atuações envolventes e um roteiro que valoriza emoção acima da ação desenfreada, o filme se posiciona como uma das adaptações mais autorais da Marvel. Uma obra que reafirma: os melhores heróis são aqueles que, mesmo diante do caos, nunca deixam de ser família.
*Texto sob supervisão da editora Maeli Radis.