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Gigante argentino da arte cinética ganha duas exposições em São Paulo

Gigante argentino da arte cinética ganha duas exposições em São Paulo Gigante argentino da arte cinética ganha duas exposições em São Paulo Gigante argentino da arte cinética ganha duas exposições em São Paulo Gigante argentino da arte cinética ganha duas exposições em São Paulo

– O artista argentino Julio Le Parc, aos 89 anos, é um dos últimos remanescentes do histórico Groupe de Recherche d’Art Visuel (Grupo de Pesquisa de Arte Visual), ativo em Paris entre 1960 e 1968, que reuniu 11 dos mais famosos artistas cinéticos do mundo e provocou, em 1963, uma revolução estética ao criar, na Bienal de Paris, um labirinto de ambientes com instalações de móbiles, luzes e relevos. Agora, meio século depois, Le Parc apresenta ao público paulistano algumas obras da época e outras mais recentes em duas exposições, que serão abertas hoje, 25, uma no Instituto Tomie Ohtake e outra na Galeria Nara Roesler, que representa o artista no Brasil.

Na retrospectiva dedicada a ele pelo instituto Tomie Ohtake, Julio Le Parc: Da Forma à Ação, com curadoria de Estrellita B. Brodsky e consultoria do filho do artista, Yamil Le Parc, estão reunidos trabalhos de várias épocas, cobrindo seis décadas de sua produção. A mais antiga é de 1958, ano em que Le Parc se instalou em Paris, um estudo bidimensional em tinta e guache sobre papel. Lá, também está sua labiríntica instalação exibida na terceira bienal parisiense, em 1963, sequência de três ambientes que conduzem o espectador a uma experiência psicodélica, para usar uma palavra em voga na época.

Le Parc não se mostra nostálgico. Lamenta que o mundo contemporâneo esteja reeditando aquilo que de pior os anos 1960 produziram, ou seja, ditaduras, censura e perseguição ao inconformistas. “Fico apreensivo com o avanço da extrema direita não só na Europa como no resto do mundo”, declara o artista, que chegou a ser expulso da França em maio de 1968, por participar do engajado Atelier Populaire, que congregou artistas militantes reunidos em protestos contra instituições.

O artista já era, então, um nome internacionalmente reconhecido como um do precursores da arte cinética e da Op Art, ganhador do Grande Prêmio de Pintura da 33ª Bienal de Veneza. Na época, Le Parc estava empenhado em eliminar os traços de composição subjetiva das obras construtivistas e incorporar o público numa experiência estética interativa, sensorial. “Quando cheguei a Paris, em 1958, a arte da moda era o tachismo, a abstração lírica, informal, mas não era atraído por ela, e sim pela ordem de Mondrian”, lembra Le Parc, apontando telas da época, em preto e branco, alusivas ao sistema ortogonal desenvolvido pelo holandês Mondrian (1872-1944) e à progressão cromática do húngaro Victor Vasarely (1906-1997), líder do movimento ‘op art’.”

A curadora da exposição do Instituto Tomie Ohtake, Estrellita B. Brodsky, esposa do presidente do Metropolitan Museum de Nova York, Daniel Brodsky, trouxe para a retrospectiva de São Paulo as mesmas 100 peças exibidas há um ano na grande mostra dedicada ao artista pelo Pérez Art Museum de Miami. “Por conta do interesse político e social de Le Parc, que sempre visou a participação do público, evitamos as intervenções didáticas de exposições dessa natureza”, justifica Estrellita, cuja tese acadêmica é justamente sobre os artistas latino-americanos ativos em Paris nos anos 1960 (Le Parc, Soto, Cruz-Díez e outros).

Aliás, são ainda da época os motores que acionam o mecanismo das peças usadas nas obras das instalações. “Eles são antigos, muito rudimentares, porque não tínhamos dinheiro para equipamentos sofisticados”, conta Le Parc, que conheceu e ficou amigo de artistas neoconcretos brasileiros que passaram por Paris nos anos 1960 (Oiticica, Lygia Clark). A recuperação dessas obras e a exposição certamente não teriam sido possíveis sem o patrocínio de empresas como o Bradesco, o Instituto CCR e o apoio da AkzoNobel, B3 e Calvin Klein.

Na Galeria Nara Roesler, o público poderá complementar sua visão da obra de Le Parc vendo seus trabalhos mais recentes: dez pinturas em acrílica, da série Alchimie (2016/17), três esculturas do conjunto Torsion (2004) e a projeção Alchimie Virtuel, que ocupa o espaço central da exposição.

JULIO LE PARC

Instituto Tomie Ohtake. R. Coropés, 88, tel. 2245-1900. 3ª. a dom., 11h/20h. Grátis. Até 25/2.

Galeria Nara Roesler. Av. Europa, 655, tel. 2039-5454. 2.ª/6.ª, 10h/19h; sáb., 11h/15h. Abertura hoje, 25. Até 7/2.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.