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J.Gar.Cia Dança Contemporânea festeja dez anos

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São Paulo – Bailarinos, em geral, começam a estudar dança clássica e contemporânea quando crianças. Entram em escolas, alguns se destacam e logo começam a chamar a atenção de companhias. Não foi o caso de Jorge Garcia. “Comecei a fazer balé aos 19 anos”, diz o pernambucano que vive em São Paulo há quase outros 19 anos.

Com uma trajetória de sucesso, o bailarino e coreógrafo inicia, nesta quinta-feira, 19, uma série de apresentações que, até maio do ano que vem, marca uma década de existência de sua companhia, a J.Gar.Cia Dança Contemporânea.

Até iniciar as aulas de balé, Garcia tinha uma ligação forte com danças populares. Dançava forró, tinha algumas noções de frevo e, aos 17, chegou a dar aulas de lambada. O mergulho pelo mundo da dança o levou à companhia Compassos, ainda no Recife, na qual ampliou seu leque de técnicas. “Lá, eles misturavam os balés clássico e contemporâneo com o popular: comecei a ter acesso à dança africana, ao maracatu, frevo, xaxado”, conta ele, frisando que, mesmo em solo pernambucano, o contato com esses gêneros ficava, muitas vezes, restrito a brincadeiras de carnaval.

Segundo ele, o esforço, na época, foi grande. “Eu fazia aula de balé iniciante com meninas de 7, 8 anos. Ao mesmo tempo, ia às aulas de adulto e ficava pulando, os caras iam para um lado e eu ia para outro”, ri, lembrando as dificuldades que tinha em seguir as coreografias. A dedicação parece ter dado certo. Aos 23 anos, Garcia passou na audição da então pulsante companhia Cisne Negro, resultado que o fixou em São Paulo.

Foram necessários dois anos no novo grupo para que ele fosse convidado a integrar o elenco de bailarinos do Balé da Cidade de São Paulo, na época sob a direção de Ivonice Satie, que logo deixaria o cargo para José Possi Neto. Nesse período, passou a levar a sério a vontade de coreografar, que, até aquela fase, se expressava apenas como experimentação. Criou peças para o próprio Balé da Cidade e trabalhou em cenas de cinema e de teatro adulto e infantil. “Quando eu voltava a ser bailarino, já não acreditava nas propostas que vinham de outros coreógrafos. Ficava incomodado”, ressalta, afirmando que criou a J.Gar.Cia para ter liberdade de criação.

Garcia deixou o Balé da Cidade, mas sua relação com a companhia permanece até hoje. É ele um dos três coreógrafos que abrem a temporada de 2015 do grupo, de 27 a 29 de março no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros. No programa Brasileiros, ele assina a coreografia Árvore do Esquecimento. Partindo da ideia de fazer com que os coreógrafos bebessem em suas fontes e levassem a brasilidade ao palco, Garcia se deparou com o projeto Pedra da Memória, no qual a pesquisadora Renata Amaral mostrou a relação entre as festas populares do Benin, na África, e dos Estados de Pernambuco e Maranhão, culturas transferidas no tempo da escravidão. “Resgato minhas referências do Recife, mas tem Benin e até outros países, como Marrocos e Espanha”, comenta, revelando um receio de o trabalho, ainda em processo de criação, resultar folclórico. “A ideia é fazer algo contemporâneo, com brasilidade. Nada didático ou folclórico”, explica.

Revisita

A primeira da série de coreografias a ser apresentada no Capital 35 – espaço cultural gerido por Garcia – é Histórias da ½ Noite. O espetáculo surgiu depois que o coreógrafo leu uma reportagem sobre Machado de Assis (1839- 1908), o que despertou o interesse de se aprofundar na obra do escritor.

O número parte de três contos reunidos em uma coletânea homônima à coreografia: Ernesto de Tal, Ponto de Vista e A Parasita Azul, sendo este último o fio condutor. “É um triângulo amoroso com dois homens e uma mulher, mas nada muito literal. Ninguém sabe, ao certo, as relações que ocorreram ali. Nesse sentido, trago um pouco de Capitu também”, informa, em referência à personagem central do mistério da traição em Dom Casmurro (de 1899) do mesmo autor.

Depois de Histórias da 1/2 Noite, a J.Gar.Cia apresenta I Suite para Violoncelo Solo, O Mesmo Lugar de Sempre, Imprimi Potest, Impimatur e Rotatória. A estreia, prevista para maio do ano que vem, fica por conta de Take a Deep Breath, que aborda a vida após a morte. Cada espetáculo fica um mês em cartaz, fazendo cerca de nove apresentações.